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Turim: uma cidade industrial?

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Nunca pensei que falar de uma cidade que tanto me apaixonou fosse um tema tão difícil. Dei por mim a navegar na Internet e a descrever factos históricos como se nunca lá tivesse estado e, provavelmente, com tal discurso, nunca ninguém se apaixonaria a ponto de a ir visitar. Certamente que Turim não é a primeira escolha quando se pensa em Itália. Conta a história de ex-capital de país, para sempre rotulada de capital automóvel, rótulo que lhe confere ainda hoje o estatuto de cidade industrial. Tal estatuto não incita a visita e foi com a ideia de cidade cinzenta, fabril e sem conteúdo que embarquei rumo a Turim. Dá-lhe uma oportunidade, foi assim que me desenganei. Quando deres por ti, estás apaixonado por ela; afinal, preconceitos nunca foram bons conselheiros e o desconhecimento nunca foi motivo plausível para não se gostar.

De mente limpa e pronta para começar a tua viagem, é assim que a deves iniciar. Ao chegares dirige-te a um ponto turístico e há dois cartões que são obrigatórios de serem comprados: o Giornaliero, que é um bilhete que te permite andar em todos os transportes públicos de Turim, a um preço substancialmente mais económico, e o cartão Torino+Piemonte que, no mesmo registo, possibilita que entres nos principais museus não só de Turim, mas de toda a Comuna de Piemonte.

Turim uma cidade industrial 3Antes de escolheres os museus que queres visitar, ambienta-te à cidade. Os cerca de 14km de pórticos permitem-te percorrer Turim abrigado, passeando entre lojas modernas, comércio tradicional e cafés históricos, tipicamente italianos. Entre pórticos, decerto que chegarás a uma das praças mais emblemáticas, a Piazza Castello, que exibe no seu centro o Palazzo Madama (Palácio Madama), monumento onde podes estrear o teu cartão. Património Mundial da humanidade UNESCO, este palácio conta-te não só a história italiana, como muitas vezes a história de artistas actuais, que ali exibem as suas obras. Após a visita, se for hora de almoço, nesta mesma Piazza tens piza à fatia, mas ao estilo rectangular. Os preços são bastante económicos e com 4 euros és pessoa para ficar satisfeita.

Depois do almoço, ruma via Pò abaixo e encontrarás a Piazza Vittorio Veneto, com vista para o rio Pò. Creio que será mais ou menos por esta altura que sentirás o teu coração a palpitar, talvez porque te lembres de Lisboa. Tal como a nossa Praça do Comércio abre os braços ao Tejo, a Piazza Vittorio desemboca no , que é o rio que banha Turim. Nas suas margens, ergue-se o fabuloso Parco del Valentino e nele encontra-se o Castello e Borgo Medievale, que remontam, como o próprio nome indica, à época medieval. Se o tempo te permitir, à porta deste castelo podes apanhar o Valentino/Valentina II, que te levarão a navegar pelo rio adentro, viagem que termina perto do Museo Nazionale dell’Automobile (Museu Nacional do Automóvel). Dada a história automobilística desta região, é um museu a não falhar, quase como ir a Roma e não ver o Papa.

Dizem que a paixão também se mede no estômago. Pois bem, em Itália há este conceito apaixonante da Apericena, que é nem mais nem menos que um aperitivo em formato jantar, qualquer coisa como o nosso lanche ajantarado. Para perceberes melhor, aconselho-te agora a apanhares o metro até à Porta Nuova e andares até ao Quartiere San Salvario. Este bairro é um misto entre o nosso Bairro Alto e o Cais do Sodré, pelo seu estilo boémio e culturalmente diverso. Em tempos era lugar para fugir, mas foi ficando na moda até que, actualmente, é local de eleição para se sair à noite. Nele vais e encontrar o BibeRòn que, mais que fazer jus ao conceito de que há pouco te descrevia, vai deixar-te de barriga cheia e de coração apertado. A comida é de fazer água na boca e a hospitalidade, irrepreensível, tudo a preço surreal.

Turim uma cidade industrial 2Porém, na manhã seguinte, é dia de levantar cedo. Ainda há vários museus e monumentos que não podes deixar de ver, entre eles o Museo Nazionale del Cinema (Museu Nacional do Cinema) – Mole Antonelliana. Não por se tratar de um dos museus mais importantes do mundo, mas porque está longe de ser um museu tradicional; esta será decerto uma experiência que não esquecerás. O culminar desta experiência é feita no ascensor panorâmico que te eleva desde o chão, em plena Mole Antonelliana, até 85m de altura, onde podes contemplar uma das mais maravilhosas vistas sobre Turim.

Embriagado(a) de adrenalina causada pelo elevador (acredita, estarás), se quiseres continuar a sentir emoções fortes, o museu a visitar será o Diffuso della Resistenza, della Deportazione, della Guerra, dei Dritti e della Libertá. De auscultadores colocados nos ouvidos, andas de tela em tela, a ouvir as histórias do tempo do Fascismo e de uma Itália em ditadura. A 14 metros subterrâneos encontrarás um Refúgio Anti-áereo, que em tempos foi abrigo de bombardeios eminentes. Hoje, andas sob aquele chão sem consciência do que aquilo já significou, um dia, para alguém. É daquelas exposições que te faz apreciar a liberdade que possuis. Por fim, para aligeirar o espírito, nada como visitar múmias verdadeiras, no Museo Egizio (Museu Egípcio). Apesar de estares em Itália, é obrigatório veres este museu; maior e mais importante que ele, só o do Cairo.

Dependendo da altura do ano em que decides visitar Turim, existem sempre eventos sazonais, como é o caso do Carnaval de Ivrea (Comuna de Turim), conhecido pela sua guerra de laranjas, bem como vários espectáculos e exposições temporárias, mas que não deves perder. Turim é rico em cultura e gosta de não a privar de ninguém; e tu, gostarás tanto dela, que nunca mais a vais querer esquecer.

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Sara Pereira
O que me define não é a formação académica ou estudos complementares. Sou isto: nem mais nem menos que alguém, mas ninguém é igual a mim. Sou única, com os meus defeitos e virtudes. Sou complexa e simples ao mesmo tempo. Por vezes complexa nas alturas em que deveria ser simples, nunca ocorre no tempo certo ou na medida exacta. Sou descomedida na medida do equilibrado. Sinto muito mas esqueço depressa. Apaixono-me constantemente pela paixão e sofro desilusões assolapadas. Cada dia, mais que em qualquer outro tempo, tento equacionar que não é nem será a ultima vez que as sofro e assim aprendo a senti-las menos. Sou sonhadora e vivo a sonhar com um mundo que seja um lugar melhor para nós. Gosto de viver alienada desta dita realidade que me rodeia, para não sabotar quem sou. Sou uma alma em constante desconstrução para que me possa continuar a construir. Tenho eternas perguntas que nunca serão respondidas. Gosto de escrever. O que me falta na comunicação verbal, compenso na escrita. Gosto da fluidez das palavras, do peso que podem adquirir, da maneira como podem tocar, do significado escondido que podem ter. Para além do que dizes ser óbvio há sempre mais, se escolheres ler-me. E quando verdadeiramente me lês, sou isto: nem mais nem menos, mas feliz por ser assim.

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