Há uma panóplia de definições sobre as Soft Skills. Em 2004, Mertens define-as como “habilidades que não estão relacionadas com a formação técnica mas que contribuem para a adaptação do indíviduo ao mercado de trabalho”. Porque, percebemos, nem só de técnica vive o Homem.
Até 2020 o conceito foi ganhando mais detalhe e aparece já associado especificamente às habilidades de comunicação, autoconhecimento, gestão de projetos e espírito de equipa pelos autores Zgabbi e Zanquim. O termo foi crescendo na importância social. E é a partir da mudança de milénio que as Soft Skills aparecem como critério importante associado a processos de recrutamento e avaliação de desempenho.
As empresas percebem que o conhecimento meramente técnico e específico relacionado com determinada função deixa de ser suficiente, enquanto criação de valor acrescentado na contratação. As qualificações académicas, embora importantes, deixam de ser suficientes para destacar um candidato de outro.
E porquê? Parece dever-se a uma série de fatores que incluem a globalização, que fez crescer a concorrência. Ou o progresso tecnológico que, substituindo gradualmente o homem pela máquina, retira ao conhecimento técnico o seu elevado valor de outros tempos. Questões como a diversidade no local de trabalho ou a natureza dinâmica dos negócios também contribuíram para este processo.
As empresas entenderam que ter funcionários com excelentes soft skills pode ser tão crucial como contar com os que possuem conhecimentos com base em diplomas e certificados de formação atestando competências técnicas.
Entrevistámos Catarina Henriques, Psicóloga especialista em Psicologia Clínica e da Saúde pela Ordem dos Psicólogos Portugueses. Mestre em Psicologia Clínica e pós-graduada em Psicologia Educacional, para percebermos como o advento das soft skills pode ser aproveitado, também, pelos desempregados seniores. Aproveitámos para falar também de algumas técnicas de motivação e validação que, agora ao contrário, os funcionários deveriam poder exigir aos empregadores.
Porque é que as Soft Skills são Importantes?
As Soft Skills são essenciais porque desempenham um papel fundamental na criação de um ambiente de trabalho positivo, na promoção da colaboração eficaz entre colegas e na melhoria das relações com os clientes e parceiros de negócios. Algumas das mais valorizadas incluem comunicação eficaz, pensamento crítico, empatia, resolução de conflitos, facilidade de adaptação à mudança constante e habilidades de liderança.
Segundo dados da Pordata relativos ao desemprego em Portugal durante 2022, os desempregados crescem em percentagem na mesma proporção em que aumentam as faixas etárias. Ou seja, se existe uma quota maior de desempregados a partir dos 45 anos se comparados com o número de pessoas inativas na casa dos 25-34, então significará isso que as pessoas mais velhas podem perder o barco da empregabilidade? Se as soft skills não são do tempo deles. Será possível recuperar o emprego?
Ouvindo Catarina Henriques, Psicóloga Clínica:
Catarina Henriques, psicóloga clínica ajuda-nos a desmistificar a questão da idade neste tema citando a académica Maria Antónia Cadilhe, investigadora da FPCEUP (Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto).
Segundo a investigadora estudada por Catarina Henriques «existem ideias pré-concebidas que alguns líderes e algumas equipas têm em relação aos trabalhadores mais velhos, mas que não passam de mitos. Os trabalhadores mais velhos são menos produtivos quando a verdade é que a investigação clarifica que o desempenho no trabalho não decresce com a idade»
Continua a explicar-nos outros mitos. «Em teoria os mais velhos serão menos inovadores. Ora, os estudos comprovam que a inovação e a criatividade não são negativamente afetadas pelo fator da idade e muito menos a facilidade de novas aprendizagens.» Reforça mesmo que «o foco e a curiosidade, traços catalisadores da aquisição de novas competências, estão presentes em diferentes faixas etárias.»
Catarina Henriques acrescenta mesmo um fator que, para os empregadores, se tornou pedra de toque relacionada com a suposta dificuldade de adaptação e resistência à mudança dos seniores: «Existe a ideia de que os mais velhos são mais resistentes à mudança, quando os estudos apontam que a capacidade de gerir a ambiguidade parece aumentar com a idade.»
Também citado por Catarina Henriques, Bartolomé Pidal, Presidente do Grupo Nortempo reforça esse ponto de vista concluindo que « no novo mundo, que se apresenta tão diferente e em constante mudança, é necessário saber unir as gerações mais velhas às mais jovens, até porque elas se cruzam com frequência». Na opinião de Pidal os mais velhos «são profissionais que têm que ser estimados e cuja experiência não pode ser perdida.»
Afinal os mais velhos sabem Soft Skills há muito tempo
Catarina continua a explicação, agora em nome próprio: «aqui a questão é que quando estes trabalhadores seniores integravam o mercado de trabalho, as soft skills não eram chamadas por este nome e não mereciam grande destaque. Na verdade, acho que todos podemos concordar que a experiência de vida traz muitas aprendizagens, nomeadamente a calma e maturidade para lidar com desafios e maior segurança na tomada de decisões, por exemplo.»
Quisemos ainda saber o que pensava sobre os resultados publicados pela Health Report relativos a 2022 pela STADA para os países europeus. Segundo esta publicação, 47% dos portugueses assumem dificuldades de gestão emocional em contexto de trabalho devido a sobrecarga. Catarina Henriques diz-nos:
«Penso que o grande problema que existe é as empresas reconhecerem a importância gigante dos seus colaboradores estarem bem psicologicamente. O trabalho é onde passamos mais horas do nosso dia e se não nos sentirmos bem nesse contexto, a saúde mental será afetada, com certeza. Trabalhar contrariado quebra a produtividade e, em limite do stress e da incapacidade de mudar o contexto laboral sozinho, o trabalhador entra em baixa médica.»
Claro que isto não é bem visto pelas empresas. «É um ciclo inevitável que pode ser alterado com medidas que vão ter impacto na saúde mental dos colaboradores e, por consequência, maior sucesso para as empresas.»
A psicóloga aponta soluções: a importância do diálogo sobre a saúde mental no trabalho, a oferta de terapia aos colaboradores, fortalecer o trabalho de equipa. Diz ela: «é mesmo verdade que somos mais fortes em equipa do que individualmente». Também encorajar um equilíbrio entre vida pessoal e profissional fazem parte do caminho para uma vida mais saudável e evitar esse bicho-papão chamado burnout.
Às chefias cabe, por exemplo, o reforço positivo. Segundo nos explica, existe uma tendência de liderança concentrada no que correu mal. Diz-nos Catarina que: «os gestores têm tendência a focar-se em projetos desafiantes que não correram bem. O feedback é importante para também se focarem nos projetos que correram bem. A valorização e o reconhecimento do nosso trabalho é muito importante para a nossa saúde mental.»
Assim, as Soft Skills não são um caminho de sentido único dos líderes em direção aos subordinados, mas, antes, um caminho com dois sentidos para que, na prática, se promovam melhorias no ambiente de trabalho e na produtividade.
Obrigada pelo convite para participar neste artigo. Foi um prazer e um privilégio colaborar com autora do artigo.
Obrigada pelo profissionalismo e esclarecimentos, Catarina 🙂