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Amor, paixão, deixar e esquecer

Poucos descreveriam o amor de forma tão certeira como Camões fez. Eu, que mais tempo conheci a paixão e apenas há quatro anos comecei a descobrir o amor, estou agora certa que o poeta não podia ter sido mais verdadeiro na sua caracterização deste sentimento.

Amor é fogo que arde sem se ver;

É ferida que dói, e não se sente;

É um contentamento descontente;

É dor que desatina sem doer.

 

É um não querer mais que bem querer;

É um andar solitário entre a gente;

É nunca contentar-se de contente;

É um cuidar que se ganha em se perder.

 

É querer estar preso por vontade;

É servir a quem vence, o vencedor;

É ter com quem nos mata, lealdade.

 

Mas como causar pode seu favor

Nos corações humanos amizade,

Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

O fogo que arde sem se ver, que nos consome, que nos incendeia os pensamentos, numa perspetiva carnal ou não. Ferida que dói mas não se sente, magoa-nos mas não é superficial, não é cutâneo; é cá dentro e não sabemos bem onde. Um contentamento descontente, em que estamos contentados, conformados com aquela pessoa, mas ao mesmo tempo descontentes porque a constante insatisfação é condição humana para existirmos. Dor que desatina sem doer, mexe connosco mas nem dói de verdade; magoa mas é um magoar bom.

Entrar nestas “dores boas” é ficar ali no limbo com o síndrome de Estocolmo, o chamado “quanto mais me bates, masi eu gosto de ti”. Isso não é amor. Que fique bem claro que isso NÃO É amor. Talvez seja paixão, mas acho que nem isso. Manipulação – isso sim, como um pedido de desculpas que nunca vem acompanhado por uma mudança de comportamento.

“Não querer mais que bem querer”. Literalmente. Sempre. Todos os dias. Em todas as situações e circunstâncias. Isto é amor. Mesmo na distância, mesmo na adversidade. Mesmo no fim. Amor é mesmo no fim querer o bem para o outro, mesmo que o bem signifique o fim, mesmo que o bem signifique a distância, mesmo que o bem signifique outra pessoa.

A paixão é perder-se. É esquecer-se de si em prol do outro, de uma maneira profunda, mas não bonita. É aquela cegueira de que falam, o fazer 30 por uma linha. A paixão é quente, carnal, louca, selvagem, arriscada, ousada e irreverente. 

Amor é deixar. Deixar ser, deixar viver, deixar sentir, deixar ir na incerteza do voltar, na esperança que aconteça, na dor de o não saber, na fé de acreditar.

Depois de ter vivido a paixão e de a ter pintado de amor, quando o verdadeiro amor chegou, hesitei. Não queria crer que era possível e que o amor não era nada daquilo que me tinha sido apresentado até então. Desconfiei, torci o nariz. Mas o amor estava ali, numa forma que eu nunca tinha pensado ser atraente, num convite que eu não acreditava ser singelo, mas enfim percebi. Percebi nas palavras, no deixar. “Eu estou aqui e gosto de ti, não porque és bonita ou jeitosa, mas porque tens um bom coração e és uma grande mulher, por tudo o que passaste e pelo teu jeito de ser. Não vou nunca impedir-te de seguidores os teus sonhos, teres os teus estudos e metas. Sei o que queres para a tua vida e sei o que eu quero para a minha e como são planos parecidos, gostava que os vivêssemos juntos. E se quiseres, como eu quero, eu estou aqui. Mas deixo-te vir pelo teu pé até aos meus braços.” 

E isto é amor. O amor é assim para os pares. E agora que sou mãe, vejo que o amor também é assim para os filhos. É deixá-los ser quem são, sentir todas as emoções e sentimentos, deixá-los viver e explorar e descobrir e ir, sair do ninho, vê-los voar e assegurar que aqui fica sempre o ninho, os braços abertos e o carinho na mesma medida do primeiro dia, do primeiro olhar, do primeiro beijo.

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