“Os olhos são o espelho da alma”, já o diz o povo. No entanto, parece-nos que esse adágio faz hoje, mais sentido do que nunca.
Vivemos o tempo das pessoas sem rosto, das máscaras que ocultam tudo, excepto o olhar. Há uns tempos, em tom de brincadeira, uma pessoa amiga disse-me: “Já reparaste que desde que usamos máscara, existem muito menos pessoas feias?” Provavelmente essa pessoa não teve a noção do que acabara de dizer, mas aquela frase ficou a ecoar-me no pensamento.
Na verdade, nas sociedades modernas, temos centrado as nossas atenções nas questões estéticas do corpo e do rosto. Primeiro, através a implementação massiva das maquilhagens, depois com o maior crescimento dos cuidados no que respeita à sua oral e à sua estética ou com o surgimento das cirurgias plásticas que corrigem quase tudo. E, mais recentemente, através dos filtros dos telemóveis e das aplicações que fazem de nós quem não somos.
Temo-nos plastificado ao longo dos anos e a aparência passou a dominar sobre a essência.
Por essa razão, nas nossas interações sociais, passámos a focar a nossa atenção na dentição do nosso interlocutor, no tamanho do nariz, das orelhas, das olheiras, na existência de sardas, na forma do queixo… Tudo como via para podermos avaliar o outro e para podermos posicioná-lo perante nós e perante os outros na hierarquia do ideal atual de beleza.
O surgimento das máscaras sociais veio deitar tudo isso por terra. Passámos a ter de olhar os outros nos olhos, a olhar para o tal interior, aquele que porventura mais interessa. Talvez seja por isso que, com o aparecimento das máscaras, as pessoas nos pareçam menos feias.
Passámos a estar, novamente, em contacto com aquilo que é verdadeiramente belo e a perceber o quanto de luz e de sombra cada um de nós carrega no olhar.