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Porque nos refugiamos na dor para superar a dor?

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A dor é uma experiência individual, real ou potencial, subjetiva, física e emocional.

Se muitos procuram libertar-se da dor física, outros tentam refugiar-se na dor física para superar a dor emocional recorrendo à auto-mutilação.

A auto-mutilação consiste na agressão intencional ao próprio corpo, sem intenção de provocar a própria morte.

Existem muitos tipos de comportamentos de auto-mutilação: corte, beliscões, murros, queimadelas, arrancar o cabelo, tentar partir ossos do próprio corpo, subjugar-se a situações de abuso e potencial dano físico, entre outras.

Surge maioritariamente em adolescente e nas situações em que lidar com a dor física é a forma que encontram para abstração do sofrimento emocional, para auto-punição e sensação de controlo, e é mais frequente nas raparigas.

A auto-mutilação é uma procura de expressão silenciosa dos sentimentos que não se conhecem e, portanto, não se conseguem gerir nem expressar de outra forma que não seja a de sentir o próprio corpo a reagir, de sentir a importância e a própria existência física pela dor. É uma forma de superação mascarada perante a frustração e a raiva. Estes sentimentos de superação são temporários, surgem muitas vezes por mero impulso, mas acabam por se tornar num hábito e vício que evolui na busca de patamares mais elevados de dor para superar, o que transgride a linha do perigo e expõe à morte.

A baixa auto-estima e a auto-mutilação são intrínsecas, e levam à letra a frase célere associada a Friedrich Nietzsche: “O que não nos mata torna-nos mais fortes.”, mas esta frase refere-se à capacidade do ser humano se adaptar e ultrapassar as situações adversas a que cada um está sujeito e não à “satisfação” e sentido de “conquista” temporária de superação obtida pela auto-mutilação.

Descobrir e aceitar que alguém próximo de nós se auto-mutila, seja em que idade for, é difícil, gera vergonha, ocultação perante os outros e gera um sentimento de falha. Identificar situações de risco, implica intervir. A auto-mutilação é algo que exige a intervenção de acompanhamento médico e especializado, mas é necessário fazer esta interligação da forma mais sensível e carinhosa possível. Quem se auto-mutila sabe, maioria das situações, que é grave o que faz, e, portanto, precisa em como qualquer outra adição, de apoio e mecanismos alternativos para quando se depara com as situações limite que a despoletam.

Não adianta gritar, envergonhar, ou esperar que passe. É necessário confrontar a situação, criar uma forma de dialogar (oral, escrito, desenho, música, outros) por ambas as partes, ser paciente, procurar ajuda exterior e técnica e incutir atividades acompanhadas que promovam e não diminuam a auto-estima da pessoa em causa.

A auto-mutilação acontece demasiado perto de nós, e é identificada já em patamares elevados.

Temos todos que melhorar a forma de verbalizar o que sentimos e nomeadamente preparar e ensinar as nossas crianças a fazê-lo da forma mais inata possível. Já o fazem, muitas vezes só precisam de ajuda para reconhecer os sentimentos novos. Devemos dar o exemplo, ajustado à idade, e verbalizar e enquadrar expressões como “Gosto muito de ti!” como o “Estou triste!”, “Estou zangado”, “Sinto-me …”, “Tenho vergonha”, “Eu não sou tão bom como o…”, “Como foi o teu dia?”, e a dar tempo para obter uma reação sem que, seja qual for a sua resposta, não se sintam diminuídos, errados nem pressionados. E os adultos têm que aceitar, que por mais que façam e estejam atentos, não podem controlar tudo, que os filhos vão errar independentemente do esforço que façam para que isso não aconteça.

Temos de aprender a praticar e interagir com a palavra “Não” quando esta põe em causa a nossa integridade física ou a dos outros, a escolher entre duas coisas menos boas, a aceitar episódios de frustração e a expressar o que sentimos, para conseguirmos escolher exprimir-nos com gargalhadas gordas na aventura da montanha russa constante que é a vida.

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