Pieces of Her é um thriller baseado no livro de Karin Slaughter com o mesmo nome e retrata uma panóplia de surpresas e reviravoltas, tentativas de homicídio e até mesmo o caos que se segue a um tiroteio num restaurante, onde Laura (Toni Collette) surpreende a filha Andy (Bella Heathcote) ao salvá-las do atirador, matando-o num movimento inesperado.
E como falamos de uma história de 2018, já todas as testemunhas têm telemóvel e tornam virais as ações heroicas de Laura, assim como a sua cara. E pouco tempo depois Andy encontra Laura na sua própria casa amarrada a uma cadeira e a ser asfixiada. Entre as duas, conseguem salvar Laura, sendo que esta incentiva a filha a fugir, com instruções muito claras e um telemóvel indetetável. E quando Andy encontra um carro pronto para fugir, uma mala cheia de dinheiro e uma fotografia da sua mãe em jovem espancada, esta começa-se a interrogar mais seriamente “Afinal quem é Laura Oliver? Quem é a minha mãe?”.
E é através de oito episódios que todos nós ponderamos a resposta. Vamos tendo vislumbres do passado de Laura, o seu passado tortuoso. Mas as pistas que vamos recebendo despertam cada vez mais a nossa curiosidade, sendo quase impossível não ver os episódios consecutivos – E é nisto que a Netflix foi genial e é neste ponto que temos de congratular Karin Slaughter pela sua história e é também por isto que temos de nos questionar porque é que com mais de 21 livros publicados em mais de uma centena de países, como é que não temos mais adaptações dos seus livros! Não nos faltam adaptações de Lee Child, nem de Harlan Coben e até mesmo de John Grisham, mas vou ser aqui muito crente e dizer que isto não é de todo um pormenor sexista!
Mas há outra questão que se levante a cada episódio que passa, a cada cena intensa que se desenrola. E é “Porque raio é que não há mais séries e filmes com a Toni Collette?”. Ela é incrível, mesmo nas cenas que possam parecer absurdas, está completamente em comando, tanto da sua performance como de toda a sua envolvente. E seria de esperar que apagasse todos os que contracenam consigo, mas o seu talento é de tal forma único que não se impõe na produção, dando espaço a todos, mas mostrando sempre um pouco mais a cada cena.
E é difícil estar aqui a escrever sobre a história sem fazer qualquer tipo de spoilers, por isso refugio-me um pouco nas qualidade intrínsecas do enredo e dos atores. É como se fosse um clássico de Hitchock, onde uma pessoa normal acaba rodeada de mistérios, mas neste caso temos a particularidade da dinâmica emocional de uma mãe e de uma filha. E são estes momentos que são verdadeiramente únicos neste thriller, quando Toni Collete e Bella Heathcote abraçam a sua exaustão e resiliência e estão juntas no ecrã.
E ao longo dos episódios vamos conhecendo cada vez mais o passado, e vamos tentando tirar as nossas próprias conclusões, mas não se deixem enganar, porque a probabilidade de acertar nos pormenores é ínfima. A cada episódio temos uma reviravolta, uma surpresa e até novas personagens. A cada episódio percebemos que Laura fez tudo para salvar a filha excetuando contar-lhe a verdade e a cada episódio percebemos que Andy não vai desistir até descobrir tudo o que aconteceu. E por vezes estes dois lemas vão chocar, criando tensão. E olhando para trás, se calhar há alguns pormenores que poderiam ter sido melhor explicados, mas o importante aqui é que o desenrolar da história nos distrai de tudo, como se estivéssemos numa montanha-russa a gritar e nunca a pensar em como esta foi construída ou o porquê de cada loop.
Posso deixar aqui mais um pormenor para aguçar a curiosidade, no fim a relação entre mãe e filha demonstra ser única, e é Andy que salva Laura, não com um movimento inesperado, mas talvez com um sentimento inesperado.