Tinha de falar sobre elas. As Moiras. As Parcas. As senhoras do destino. Filhas da noite.
Com elas e através de quem me apresentaram no caminho, apercebi-me que as histórias têm o poder da cura. Ao longo de milhares de anos, oralmente e mais tarde, através dos meios que conhecemos hoje, as histórias têm o poder de nos relembrar, de nos curar, de nos guiar através dos caminhos da vida.
Aprendi também que os arquétipos, a mitologia e a filosofia se juntam e representam um meio de conhecimento interminável, girando como a roda da vida. Dão-nos formas de sermos melhores, de nos transcendermos e, sobretudo, de questionar.
Questiono-me. Questiono-me muitas vezes sobre as poderosas senhoras Parcas, que tecem o fio do destino na roda da fortuna, aquelas a quem nem os Deuses ousam questionar.
Cloto, que origina a vida, o intrincado fio de eternos renascimentos. Láquesis, que o mede e trabalha, que olha pelo papel de cada um de nós e pelas suas felicidades e desajustamentos. Átropos, que decide com precisão o exacto momento de cortar o fio da vida com a sua tesoura. São três as poderosas Moiras e ao mesmo tempo são só uma.
São elas que originam as nossas histórias, transversais ao tempo, que se tivermos a paciência e a ousadia de sentar e escutar, de absorver, de ler, poderemos nos guiar e identificar.
Entendemos que as histórias que ouvimos, desde o nascimento ao fim, são todas muito parecidas com as nossas. Olhamos com olhos de ver o facto de que caminhamos todos com os mesmos anseios e batalhas muito parecidas. Relembramos que sem corpo não se executam os anseios do espírito nem o conhecimento da alma e que sem a tentativa de elevar alma e espírito, o corpo também não nos serve para nada.
É de cada um o seu caminho. É da consciência de cada um apoiarmo-nos uns aos outros conforme caminhamos em contos.
Enquanto isso, as Parcas, sem se incomodarem sequer com os Deuses, fiam, desfiam, medem, esticam e enrolam os fios da nossa vida.
Não sei se existe um destino. Ou se à medida que a vida se desenrola o vamos criando, mas sei que somos responsáveis por ele. Por nós. Pelas nossas escolhas. Por fazermos dele e com ele o melhor que possamos.
Que se contem e escutem histórias novamente. As que sabemos, as que lemos, as que ouvimos, as que assistimos. Que partilhemos gostos e antipatias pelas personagens e nos emocionemos com os desfechos.
Ao ajudarmos nos nossos próprios renascimentos e dos outros, tudo fará mais sentido, o gosto será outro. Até que o fio da vida seja cortado.