As palavras. Por vezes, dizemo-las enganados, irreflectidamente, por malícia e depois podemos arrepender-nos, ou não. No entanto, cabe a cada um pensar sobre o que diz e escreve e, por conseguinte, sobre o que ouve e lê. O facto é que elas quando saem “da boca para fora”, já não entram. E quando são escritas, muito menos. Depois de as lermos, é que não há volta atrás. O mal já foi feito. Foi sobre palavras escritas que, esta semana, literalmente me debrucei, enquanto desenhava.
As ditas e escritas podem até parecer absurdas, ou propositadas, para se desviar a atenção de mais uma semana de trapalhadas do governo. Parece que um certo ministro, continua a não perceber como é que o seu computador emula o Matrix, mas, teimosamente, não profere as únicas e consequentes palavras, que todos esperam ouvir.
Ora, o Supremo Tribunal de Administrativo da República Portuguesa, e cito, “órgão de cúpula da hierarquia dos tribunais administrativos e fiscais, aos quais compete o julgamento de litígios emergentes das relações jurídicas administrativas e fiscais (…)” e com “jurisdição sobre todo o território nacional” emanou esta semana um documento que gerou algum “falatório”. Eis que, num acórdão, se escreveu que “(…) aos 50 anos, a actividade sexual não tem a importância que assume em idades mais jovens”, como uma das justificações para reduzir, em 64 mil euros, uma indemnização justamente devida a uma mulher que foi operada em 1995. Há quase 20 anos, note-se.
Talvez quem redigiu este documento tenha sido educado numa sociedade em que as esposas não eram mais que montras e objectos de perfeição, com bom sangue, para gerar varões e prendadas em lavoures, para ganhar concursos da “Mulher Ideal Portuguesa”. Talvez nessa sociedade a maioria dos homens valorizasse o sexo, mas com mulheres que não as suas. Talvez com amantes, ou prostitutas. Talvez com menos de 50 anos. Porém, quero crer que tal já não pode ter cabimento em Portugal, um país europeu, no século XXI.
Para o dizer estarão os jovens. Para mudar, para se oporem. Para dizer que estas pessoas não os representam, que não se enquadram nestes lugares. Que não devem ocupar posições de topo e muito menos exercer altos cargos, segundo convicções pessoais ultrapassadas e ultrajantes para todos. Para os que partilham o mesmo tempo e espaço que estes senhores, mas também para todos aqueles que tentaram construir um Portugal melhor, mais saudável, mais justo, mais humano.
Não tenho mais palavras. Apenas uma: demissão.