Estamos continuamente a pensar no futuro. Ou, no passado.
Poucas são as pessoas que procuram um presente isento das mágoas do passado ou, expectativas sobre um amanhã que se desconhece, e que se guiem apenas pelo momento actual.
Será que daqui a 10 anos existe uma sociedade? Ou, que sociedade será essa, tendo em conta o momento presente?
Quando se fala de bons seres humanos, que características os definem?
Será que a moral e a ética estão a ser transmitidos, enquanto valores que os sustentam, considerando a globalização, e a contínua interacção com o próximo, num lugar que se pretende que a liberdade e respeito mútuos sejam tão importantes para si quanto para o outro?
Sabemos que não funciona assim em todo o mundo. Sabemos, também, que os valores para construir bons seres humanos são distintos, dependendo do país e da cultura em que nascem. Sabemos, infelizmente, que muitos desses valores nem sequer podem ser transmitidos, pelo horror a que estão sujeitos os filhos da guerra e, pela expulsão de povos.
Por isso, quando se questiona sobre o futuro, incerto, que princípios são esses que os pais têm de deixar às suas crianças capacitando-os para lidar com uma sociedade que não é igual em toda parte?
Talvez o que se pretenda é adequar a pergunta, limitando-a geograficamente ao espaço limítrofe europeu, com os conceitos de ética e moral similares, porém que, ainda assim, são questionados e debatidos continuamente.
Ou, talvez, haja uma necessidade de se ter de parar o tempo, relembrando a conexão à terra, às raízes da existência passada com a natureza e, deste “animal natural” que fomos, se retirar a semente primordial capaz de educar as crianças de hoje para os desafios do amanhã. Pura divagação.
Os desafios de hoje, mesmo com características diferentes de quaisquer outros que se tenham vivido antes, implicam uma necessidade urgente de mudança de paradigma, porque os padrões de vida e comportamentos que estamos a assistir não estão a resultar. Uma atemporalidade, com preceitos como a honestidade, o respeito, a responsabilidade, tolerância e humildade, entre outros, provenientes dum compromisso intergeracional, que se desconhece se é real ou ilusório.
Uma preocupação do presente e, cujos pais, estarão eles próprios, capazes de resolver perante as dicotomias existentes entre homem/natureza, sociedade/globalização ou clima/terra, com as quais todos se debatem? Um futuro incerto, como é próprio da etimologia futurus.
Será que auscultar, ouvir, comunicar entre as gerações, num respeito mútuo entre os novos e os velhos ou, os velhos e os novos, pode ajudar? E, que não existindo, próprio do ego e do individualismo, nos está a causar demasiados problemas?
Ninguém sabe que características deverão ter as crianças amanhã, para lidar com as exigências dum mundo, em constante mudança e que, daqui a 10 anos, requererão uma adaptação de igual modo, rigorosa. Ou, será que sabe? A preocupação real dos pais é a de construir bons seres humanos.
Para se reflectir sobre isso, importa saber de que crianças falamos.

Pertenço à Geração X, sem filhos, e quase que será um “crime” abordar esta temática aos olhos de tantos que os têm. Porém, perceber que desde a geração à qual pertenço até aos dias de hoje, muitos outros grupos se sucederam e, as características que os identificam e distinguem, vão para além das décadas em que cada um surgiu, uma temática que qualquer pessoa pode questionar.
De 2011 até 2025, a geração é denominada de Alpha. A primeira que está totalmente imersa no mundo digital, a primeira a ter nascido totalmente no século XXI e a primeira sem um conhecimento do mundo como aquele que assisti até aqui. Por isso, a designação de Alpha, a primeira letra do alfabeto grego, como correlação ao primeiro dos primeiros.
O contexto sócio-cultural em que os grupos desta geração estão inseridos, como a aceleração das alterações climáticas, a pandemia COVID e o desenvolvimento da Inteligência Artificial, moldou-os pelos mesmos eventos e, consequentemente, os faz portadores de valores idênticos, para que desenvolvam estratégias de lidar com o presente e criar expectativas quanto ao seu futuro.
São nativos digitais, com uma educação influenciada pela tecnologia, e onde temas como sustentabilidade, diversidade e responsabilidade social são amplamente discutidos e valorizados. Demonstram uma consciência social e ambiental precoce, influenciada pelos pais e pelos meios de comunicação social, valorizando tanto experiências quanto produtos. E, acima de tudo, são indivíduos que, mesmo sem poder de compra, exercem grande influência sobre as decisões de consumo das suas famílias.
Características que, idênticas às da geração anterior, estão muito mais vincadas nos Alpha. Para se fazer uma reflexão sobre o mercado de trabalho para estes grupos, convém perceber os constrangimentos da Geração Z, nascidos entre 1995 e 2010 que, ao serem integrados neste mercado estão a sentir algumas dificuldades. Como a notícia que refere que as empresas “estão a despedir trabalhadores da Geração Z pouco depois da sua contratação”. Ou, situações de trabalhadores que se despedem porque os patrões não compreendem a necessidade “de equilíbrio entre vida profissional e a vida pessoal”. Um axioma proveniente duma elevada autoestima, e uma consciência face ao mercado de trabalho divergente das gerações anteriores, procurando entidades com forte componente social e comunitária, oportunidades de crescimento rápido, e priorizando ambientes de trabalho flexíveis, híbridos e remotos, factores essenciais para o seu bem estar pessoal e profissional.
Características que os nascidos na geração à qual pertenço valorizavam, porém, são quase inexistentes, porque a dependência dos poderes institucionais era excessivamente estimado. Lacunas que se reflectem nos ambientes de trabalho, gerado por stress diário e, que os leva à exaustão e burnout, em locais onde a hierarquia ainda detém o poder sobre os trabalhadores e, que as novas gerações estão a questionar.
Que preocupações devem ter os pais e o que fazer face a estes comportamentos? Será que se compreendem quais os valores a manter? E, por outro lado, aquilo que se tem de fazer para se quebrar com elos do passado; preconceitos e estereótipos; geradores de misoginia, xenofobia, questões raciais e discriminação. Como exemplo, perpetuando a vergonha e a culpa pelas atrocidades do colonialismo, da exploração económica, e dos absurdos da 2ª Guerra Mundial, que muitos dos nossos pais e avós viveram e, os perpetuam passando aos seus descendentes.
Como referido atrás, talvez o mais importante é o elo entre gerações e, que o compromisso intergeracional deve ser mantido. Ou repensado, na medida em que as alterações que se estão a sentir são gigantescas ao ponto da autodestruição; para que não se continue a tratar o planeta da forma como o temos feito até aqui; e, se capacitem as crianças de hoje para um amanhã, que se quer que exista. Porque, senão houver um amanhã na Terra, dificilmente existirão mercados de trabalho com os quais os filhos se terão de debater.
Sem Terra, não há humanidade.
Sem desumanidade, a Terra pode subsistir.
NOTA: Artigo escrito com o antigo acordo ortográfico.
 
			 
						 
										 
										 
										 
										 
		 
					 
					 
					 
					 
					 
							 
				 
				 
				 
				