Após uma semana tremendamente atribulada por causa dos famigerados incêndios que flagelaram concelhos inteiros em Portugal, exigia-se da parte dos nossos políticos, Governo e de uma crassa maioria dos comentadores políticos, alguma sensatez dada a gravidade histórica do problema. Sim, gravidade histórica, porque isto dos incêndios em Portugal não é de agora. É antes algo que faz parte da triste história do nosso país que este ano, por força de uma série explosiva de situações várias, extravasou aquilo que se pode apelidar de “razoável”.
Patetices censuráveis
Comecemos pela patetice mor que marcou a semana passada: exigir a demissão do Governo de António Costa.
É um facto que o Executivo liderado por António Costa tinha a obrigação de ter feito algo depois do sucedido em Pedrógão e arredores. É também um facto que a antiga Ministra da Administração Interna (MAI) e anterior Secretário de Estado do MAI deveriam ter tido o cabal cuidado de não dizer a primeira bacorada que lhes veio à cabeça, porque, quer estes queiram ou não, a protecção das populações é a prioridade máxima do Estado português esteja ou não Portugal sobre um “colete-de-forças” chamado zona euro. Porém, daí a exigir-se a demissão do Governo vai uma tremenda distância. E a esta distância tem um nome: responsabilidade. E o que a dita responsabilidade dita (ou pelo menos deveria ditar) era que tanto comentadores políticos como classe política deveriam aproveitar o momento para obrigar o Governo a tomar medidas que evitem que no futuro Portugal volte a passar pelo pesadelo que passou este ano no que aos incêndios diz respeito.
Contudo, ainda está para vir o dia em que certos comentadores afectos à Direita, Assunção Cristas (CDS) e Pedro Passos Coelho (PSD), percebam o verdadeiro sentido de responsabilidade, daí que estas nefastas e patéticas personagens tenham vindo a público aplaudir e incentivar uma coisa chamada moção de censura. Coisa essa que, para o bem e para o mal, se vai transformar numa espécie de moção de confiança que os suportes parlamentares de António Costa (Bloco de Esquerda e Partido Comunista Português) utilizarão para deixar um sério aviso à actual governação.
No meio de tudo isto, valha-nos o Presidente da República que, embora exagerado em tudo o que faz e diz, de uma forma indirecta forçou o executivo de António Costa a mostrar serviço. Se tal vai diminuir a possibilidade de o inferno voltar às regiões do interior do nosso país, só o tempo nos dirá.
Entretanto aqui ao lado
As coisas começam a complicar-se para Mariano Rajoy, que com a conivência de uma Europa cada vez mais ameaçada (ou não) pelo perigoso avanço dos populistas e extrema-direita fecha os olhos aos comportamentos autoritários do Governo central de Madrid. Barcelona voltou a viver o pesadelo franquista das prisões políticas e a Catalunha já sentiu na pele da sua população o bastão pesado do livre arbítrio das forças de segurança espanholas. Tudo no suposto nome da Democracia e do Estado de Direito.
Para breve (se já não ocorreu) está planeado uma espécie de assalto de Madrid à democracia em Barcelona sob a alçada de um preceito constitucional muito vago. Assalto este que faz lembrar as atitudes de Maduro. Atitudes que o Governo de Mariano Rajoy e o PSOE de Pedro Sánchez desprezam e criticam.
E ainda houve quem se indignasse, quando um certo governante de um certo Estado-membro da União Europeia sugeriu a suspensão da Democracia no seu país “por razões de segurança”.