O Evangelho Segundo a Pandemia

No princípio, Deus criou os céus e a terra e tudo o que neles há. E ao sétimo dia, celebrando a obra concluída, sob o efeito de álcool e drogas pesadas, criou também Trump, Bolsonaro e Boris Johnson. Tentou ainda, num desafio lançado pelos seus colaboradores no calor da euforia, criar o homem mais alto do mundo, mas, por falta de stock de fermento, não o terminou. Chamou-lhe Marques Mendes.

Naquele tempo, a serpente, que era o mais astuto de todos os animais selvagens que o Senhor tinha feito, perguntou à mulher: “Foi isto mesmo que Deus disse? Não comam nenhum fruto da árvore do jardim nem morcegos dos mercados da China?”

Respondeu a mulher à serpente: “Podemos comer o fruto da árvore do jardim, mas eu prefiro os morcegos. Primeiro, porque fruta faz-me gases. Depois, porque os morcegos fazem-me lembrar o Batman e eu sempre tive a fantasia secreta de comer um super-herói.”

No entanto, Deus, voltou a dizer: “Não comam o fruto da árvore que está no meio do jardim e não petisquem o morcego e o pangolim, caso contrário, vocês morrerão.”

Disse a serpente à mulher: “Não morrerão, certamente. Olha que Deus está a exagerar outra vez. E se forem como o presidente brasileiro não precisam mesmo de se preocupar. Apenas poderão ter uma gripezinha. Quando muito, um resfriadinho. Se forem ingleses, escutem as sábias palavras de Boris Johnson e pratiquem a imunidade de grupo no jardim, nos transportes públicos e enquanto vão passear os cães à rua.”

Quando a mulher viu que a árvore parecia muito agradável e que estava bom tempo para passear no jardim e na praia de Carcavelos, tomou do seu fruto, comeu-o e deu ao seu marido, que o comeu também.

Naqueles dias, o homem ficou doente, à beira da morte. O profeta Isaías, filho de Amoz, foi visitá-lo e disse-lhe: “Põe a casa em ordem porque não recuperarás, vais morrer.” O homem virou o rosto para a parede e orou a Deus, a Graça Freitas, da DGS e também a Gustavo Santos, especialista em lugares-comuns espirituais. Sensível e atento aos apelos do homem, Deus, disse: “Ouvi a tua oração e vi as tuas lágrimas. E não ligues à Graça Freitas porque ela nunca acerta nas previsões, pá. Acrescentarei quinze anos à tua vida, a não ser que insistas nisso do Gustavo Santos, porque quanto a isso não posso fazer milagres. Terás de aplicar um emplastro de figos no furúnculo e assim te recuperarás, junta-lhe uma subscrição da Netflix e muitos rolos de papel higiénico.”

Então, Deus multiplicou a dor entre homem e mulher, declarando o estado de emergência e ordenando aos casais que ficassem fechados em casa, olvidando o sofrimento e angústia dos maridos que possuem amantes, coitados. Exigiu o uso de luvas e máscaras, que lavassem as mãos regularmente, enquanto cantam os parabéns, de forma a não ficarem com a pele cor de laranja como o Trump.

Ao mesmo tempo, Deus castigou a serpente: “Já que fizeste isso, maldita sejas entre todos os rebanhos domésticos e entre todos os animais selvagens. Sobre o teu ventre rastejarás e acabarás por servir de refeição a uns quantos chineses, que farão de ti um ensopado ou uma espetada.”

Por fim, expulsando o homem do Jardim do Éden, o Senhor disse: “Agora o homem tornou-se um de nós, conhecendo o bem e o mal. Mandarei, então, a GNR bloquear as estradas que dão acesso às terras, e abater-se-á sobre o homem uma maldita proibição de festejos da Páscoa junto da família, guardando-se, assim, caminho para a árvore da vida.”

E, disto isto, Deus retirou-se e foi analisar as curvas da Soraia Chaves, porque das curvas da evolução da pandemia já ele estava farto.

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