Naquela última meia hora do filme realizado por Ryan Murphy, acreditei mesmo que o seu título poderia ser aquele que agora dá nome a este artigo. Bastaria acrescentar um hífen, um simples s e um e e tudo seria diferente. Mas, depois de ter deixado tudo para trás, viajado sozinha pelo mundo, redescoberto o prazer pela comida, aprendido a meditar e encontrado o balanço perfeito, nem a personagem Liz resistiu à obrigação social de amar alguém e partilhar a vida com essa pessoa. 12 meses pelo mundo para acabar onde tudo começou? Estamos condenados.
Sim, eu sei que cheguei com 10 anos de atraso a esta história. O mais certo é que outras pessoas se tenham insurgido contra o mesmo. Contudo, tudo o que li até agora sobre o Comer, Orar, Amar não passa de apelos a mudarmos de vida, recomeçarmos do zero e o clássico… é isso mesmo… sair da zona de conforto. Oh, a maldita zona de conforto que nos prende e nos impede de arriscar. Aquele lugar bom que nos tolda o olhar, ante novas experiências e culturas.
No entanto, se pensarmos bem, a Liz andou pelo mundo para descobrir uma nova zona de conforto. Ela esteve quase, quase a perceber que bastaria amar-se a si própria para ser feliz. Mas não, não pode ser. Porque, alegadamente, e citando o xamã do filme, até no equilíbrio precisamos de algum desequilíbrio. E é precisamente na relação com outra pessoa que, pelos vistos, se encontra esse desequilíbrio. Fazer cedências, negar formas de estar em que acreditamos e abdicarmos do tempo sozinhos: para uma vida completa, precisamos de passar por todas estas tormentas psicológicas. Oh, Liz!
Entretanto, já percebi que o filme é uma adaptação pouco fiel do livro homónimo, que conta as memórias da jornalista Elizabeth Gilbert. Espero que as conclusões do livro sejam ligeiramente diferentes. O mesmo livro que passou a ser um roteiro de viagens – exteriores e interiores.
Inspiradas nesta história, milhões de pessoas em todo o mundo vão da Itália à Índia, passando pela Indonésia, à procura Deus. E, no meio da aventura, todas elas procuram desesperadamente o amor de outra pessoa, como se da derradeira validação da sua personalidade se tratasse.
Agora que o filme me tirou a última réstia de esperança de que faz sentido estarmos bem sozinhos, pode ser que a quarentena a reacenda. Afinal de contas, para as milhares de pessoas isoladas em todo o mundo por estes dias, pouco lhes resta senão comerem, orarem e amarem-se. E o difícil que isso já é!