O acordo é um fracasso diplomático. Estamos perante um “acordo” entre os países falantes da língua que subverte a história como uma calamidade irreparável. Um acordo (1990) que visava unir os países, acabou por dividir. Algo que foi feito à pressa, em que as alterações visam uniformizar algo que não era necessário: uma solução para um problema que não existia.
Esta é uma língua de muitos que é uma pátria ou uma língua que é de muitas pátrias? Por inércia ou por cobardia, estamos perante uma regressão lastimável.
É uma língua que nos une ou são muitas línguas numa só? É a pergunta que fica. Se estamos ligados, ou cada vez mais distantes, e sós?
Adaptar-nos à fonética é cortar o cariz histórico das palavras. Isso é inequívoco, e é importante não confundir a língua falada com a língua escrita. A língua escrita é o conteúdo, a falada a forma, não se podendo misturar as coisas. Faz tudo parte de um todo… que devia ser maior que a soma das partes.
O acordo, este acordo, é a destruição da ortografia. É um acto irreflectido. Transformar «pára» em «para», e retirar por completo as consoantes mudas é catastrófico. Importa esclarecer que perder a língua é o início da perda da identidade de um povo.
Isto não é mais que um acto colonial à contrário: Portugal sugeriu que nós começássemos a escrever como os brasileiros. Adaptámos a língua mãe às línguas derivadas.
É absurdo, ridículo, sequer pensar no impacto que este abuso democrático tem actualmente na sociedade portuguesa. Para vermos o lado estapafúrdio de tudo isto, desde a entrada em vigor do acordo (em 2011) os países estão todos a revogar o acordo, sendo que vamos acabar sozinhos neste pseudo-tratado.
Longe de unir, o novo acordo ortográfico só conseguiu dividir os países falantes da língua portuguesa. Muita gente escreve hoje em dia num português que não é o meu, o que demonstra um poder político totalmente demissionário: uma traição à pátria. Estamos perante a velha situação em que a estupidez impõe pela força o que não consegue impor pela razão.
“A nossa pátria é a língua portuguesa”, tal como dizia Pessoa. Eu escrevo e continuo a escrever segundo o antigo acordo, conservando a pátria e a história da língua: o meu património.