Acho que, muito sinceramente, nunca pensei ser mãe! Isto é: pelo menos até à idade adulta. Em criança, nunca fui muito de brincar “às mães e aos pais” ou de passear os meus bebés! As minhas brincadeiras na infância resumiam se a bolos de lama, restaurantes imaginários e livros de histórias onde eu era a heroína. Depois cresci e comecei a imaginar como seria “ter” um bebé ainda sendo eu uma jovem: quando ele crescesse ainda seria “fixe” o suficiente para o acompanhar numa primeira ida a discoteca ou umas belas sessões de cinema! E quando fosse velhinha? Seria bom ter alguém para tomar conta de mim! Sejamos realistas: a decisão de ter um filho é, talvez, o nosso último ato de egoísmo!
Tinha 27 anos quando nasceu o meu primeiro filho e, nesse dia, nasceu uma mãe!
Ser mãe é mais que trazer um bebé na barriga durante uns meses e puff! Ser mãe, ou melhor: nascer mãe, é passar a ver o mundo com olhos rasos de água só de imaginar o perigo que espreita a cada canto, é ver “o coração correr fora do peito”, é passar a ser “a mãe do” e sentir o peito arder de orgulho quando dizemos “O Meu Filho”. Se, quando imaginamos o nosso bebé, pensamos em nós e no nós com ele, quando nascemos mães pensamos nele e nele connosco, uma diferença subtil mas poderosa!
E ali estávamos nós: dois pais de primeira viagem com um bebé ao colo, alguém que estará para sempre ligado a nós mesmo com o cordão umbilical cortado à nascença: o nosso bebé! Um mundo inteiro de possibilidades, uma história em branco à espera de ser escrita por ele e por nós.
Instantaneamente, as dúvidas e receios passaram a ser outros: será saudável? Feliz? Será uma criança calma? Um bom aluno? Irá para a universidade? E nesse momento pensei: bolas, como vou “criar” este menino, alimenta-lo, vesti-lo, mantê-lo saudável… mas e quando for para a escola? Cresci a ouvir os meus pais temer o setembro e toda a logística de como iniciar um ano escolar e agora aqui estou eu com uma criança e com mês a sobrar ao ordenado quase sempre!?!
Certo é que, dia após dia, aprendi a ser mãe, aprendemos a ser pais! A vida ensinou nos a ser pais separados, ensinou nos a partilhar responsabilidades e estar atentos ao nosso filho: às suas duvidas, aos seus receios, às pequenas vitórias e aos pequenos degraus. Aprendemos a dar-lhe a mão e a soltar quando é preciso.
Não sou uma mãe perfeita, não quero sequer ser! Aliás, irrita-me a tão falada dicotomia “mães perfeitas vs mães imperfeitas” e não sei em que categoria me situo: creio que em nenhuma ! Afinal o que é ser perfeita? É fazer jantares “estrela michellin” todos os dias e ter filhos imaculadamente vestidos e “bem comportados” e imperfeitas são o quê mesmo? As dos douradinhos e da massa esparguete? Lamento, sou parte de ambas: sou do clube “mães normais”.
Já sou mãe há mais de uma década, já subi de escalão e agora tenho dois. sou mãe ao quadrado! Penso que, mais dia menos dia, chega o certificado no correio! Na realidade, o melhor reconhecimento passa por um sorriso, por um desenho, um abraço apertado e um beijinho peganhento do chupa-chupa! O melhor reconhecimento é simplesmente ve-los crescer e tornarem-se as melhores versões deles mesmos!
Podia falar aqui nas outras, naquelas que não tem filhos porque não querem ter e está tudo bem, ou nas que querem, com todas as suas forças, mas não conseguem (e com elas está o meu coração) e as tais: as tais que não são mães, que não nascem mães: as que, simplesmente contribuem para a população mundial e ponto. Podia falar, podia dizer muitas e muitas coisas bonitas, e outras que não tanto, mas ficará para outro dia. Ser mãe também é isto: assumir que hoje não dá e fica para outro dia, é conseguir desenrascar, é saber adaptar, é crescer com eles e ir aperfeiçoando a técnica dia após dia, para sempre! Porque uma mãe nasce mãe com o filho e nunca, mas mesmo nunca, irá deixar de o ser!