É comum escutarmos muitos falando que é na cozinha que temos boa comida, bons cheiros e ótimos papos… A conversa na cozinha nos remete à acolhimento, aconchego, uma rotina com amor!
O dia que termina gostoso, com papo fiado, ou debates mais sérios, brincadeiras com as receitas, criando daí as memórias afetivas.
No livro, Nutrição Comportamental, Michael Pollan nos diz que, historicamente, pessoas comem por diversas outras razões que não as necessidades biológicas. E ainda salienta que comida também é prazer, comunidade, família, espiritualidade, relacionamento com o mundo natural e também é expressão de nossa identidade.
Errado ele não está! Até defendo que o “algo mais” da comida, o comer ultrapassa o só ingerir nutrientes. É mais à frente! Pode até envolver sentimentos não tão bons, a depender do que a memória lhe traz, mas compete à nós, no presente, valorizar e apreciar (ou criar) bons momentos em cima disso.
No correr do dia a dia, rotina, muitas das vezes nem tempo para comer se tem, mas quando isso desacelera é hora de aproveitar o que isso pode oferecer. Nem só de ir mesmo cozinhar, uma ida ao restaurante preferido da família, nem chique há de ser. Uma lanchonete fast-food já basta para esse momento se ter. É o ato de criar boas lembranças e momentos no presente, que fortalecem e unem. Seja família grande, seja casal, seja amigo ou parceiro. Vínculos de amor através do comer!
Se formos além, já pensou na infância ou uma viagem, um passeio, na escola, com os amigos ou família, algo que te remete a uma lembrança boa, um cheiro… Os cinco sentidos se relacionam até aí: O olfato, com o cheiro vindo da cozinha, a visão, com o “comer com os olhos” quando visualizamos um prato bonito, o paladar, do gostinho que fica na boca de tanto prato bom, a audição com os ouvidos atentos as receitas partilhadas ou aquele papo apoiados na pia e finalmente o tato, quando literalmente se “mete a mão na massa” e preparamos as delícias que nos permitem guardar para sempre essas vivências dos pequenos atos e momentos. Daquelas coisas que não tem preço…
Nas minhas lembranças guardo o bolo de cenoura, na forma retangular, cortado aos quadradinhos, com calda bem líquida de chocolate em pó, leva-me à minha avó. Ou a batata frita que só ela sabia fazer… Já tentamos inúmeras vezes reproduzir, confesso! Já pensamos em ser a marca do óleo, a qualidade da batata, o tipo do corte, a técnica de secar com papel antes de fritar. Mas nada, nadinha, resultou igual. Conclusão de que o segredo era as mãos de quem faz. Uma das saudades boas!
Tem também as vezes que a minha mãe tentava fazer uma réplica de Mc Donald’s, colocando as fritas no saquinho de papel e os hambúrgueres dentro da caixinha e ainda nos entregava por uma janela da varanda, como se fosse mesmo balcão de lanchonete. São essas coisas que ficam e se guarda. É nisso que a gente aprende e reproduz, com os nossos e com quem a gente quer bem. Chamar amigo para comer em casa é mais nobre do que pagar a conta do restaurante. É uma forma de carinho, é o mesmo que dizer: “Quero você perto e preparar com afinco, uma comida gostosa e que agrada o paladar e a relação.”
Não deve ser a toa que a frase “me ganhou pela barriga” tem força e conquista casais pelo mundo a fora! Cadernos de receitas passam de geração para geração e nem é coisa de novela. É mesmo real e tem muitos espalhados nas famílias por aí. Se permita explorar o prazer que a comida pode lhe proporcionar, seja em experiências gastronómicas, seja errando uma receita na cozinha de casa, seja fazendo uma grande sujeira na bancada, cortando biscoito e sovando massa.
A graça está em manter, criar e preservar… deixar a comida e tudo que ela traz com ela, fazer os dias mais doces (ou salgadinhos) com diversão, união e leveza que nossos dias merecem!
Que as memórias afetivas prevaleçam e se propagam. Acompanhada de um café quentinho ou uma boa taça de vinho. Na minha humilde opinião, o que importa é a companhia, bom papo e leveza no coração!
Nota: Esse artigo foi escrito seguindo as regras do português do Brasil