Que dizer sobre esta tão grande senhora? As palavras tornam-se pequenas e até mesmo destituídas de significado. Mary, o seu nome verdadeiro, tem em si tantas vidas que é difícil escolher a que mais nos agrada. Vamos por partes para se poder analisar.
O seu primeiro filme foi “Julia”, em1977, no qual interpreta um papel pequeno, mas com algum destaque, nas cenas de flashback. Esta é a época mais dura para ela, pois estava apaixonada por John Cazale e foi-lhe diagnosticado um cancro ósseo. É nesta dura realidade que aceita participar no filme “Caçador”. Queria ficar com ele o máximo de tempo possível.
Durante meses, quando ele estava quase um vegetal, ia visitá-lo ao hospital e lia-lhe o jornal como se ele estivesse a ouvir tudo claramente. Tentava dar-lhe alento e força para continuar. Foi incansável e estava desgastada. As cenas do filme foram todas gravadas com rapidez, com receio que ele não resistisse.
Em 1978, participou em “Holocausto”, uma série muito emblemática que não lhe deu o prazer esperado, pois tinha em mente ganhar dinheiro para salvar Cazale, o que se revelou infrutífero. A sua dor ficou bem espelhada no papel e, com uma audiência de cerca de 109 milhões de espetadores, foi a porta aberta para a fama.
“Manhattan”, “Kramer vs Kramer”, “A Amante do Tenente Francês”, assim como tantos outros, são filmes e formas de a encontrar em papéis bem diferentes e que soube defender com garra e dignidade. Tantos que podem ser referidos, mas alguns merecem uns detalhes mais personalizados.
“A escolha de Sofia” mostra-nos uma mulher destruída pelo passado e perdida, na busca de algum caminho que lhe possa dar conforto, mas em que a loucura, essa safada, ganha terreno. A dupla com Kevin Kline, além de deliciosa, é tão atrativa e não se consegue desviar o olhar deste casal tão peculiar.
“África Minha” é outra mulher que nos é mostrada, alguém a quem a vida prega partidas, mas que se sabe levantar e apaixonar, mesmo que a dor seja constante. Uma mulher que viveu muito à frente do seu tempo e que soube sobreviver a si própria. Uma mulher que teve a ousadia de entrar num mundo diferente.
E que dizer de Francesca? Quem não se apaixonou por esta mulher não sabe o que é sentir. Meryl e Clint deixam a sua tão pesada e forte marca no filme “As Pontes de Madison County”. Uma história que não será fácil de esquecer, pois o sofrimento fica colado a quem o vê, passando a sentir.
“Mamma Mia” oferece-nos uma fresca Meryl que canta e dança como se ainda fosse uma adolescente, pois esse é o seu mote e comportamento. Um filme muito bem-disposto que é o oposto de “O Diabo Veste Prada”, onde uma fria e seca Meryl faz das suas todos os dias, criando um ódio de estimação que não se consegue abandonar.
Haveria tanto a acrescentar. Além do cinema, também dá cartas no teatro e move-se na sociedade, atenta a tudo o que a rodeia e fazendo o que está ao seu alcance, denunciando o que não está correto e tentando avançar com o que possa melhorar.
O seu legado está salvo com filhas que lhe seguem os passos e novas vidas que irão conseguir criar. Meryl, a semente depositada e, terreno fértil e que não para de encantar. São muitos os adjetivos para a qualificar, mas credibilidade, honestidade e perfeição, assentam-lhe que nem uma luva. Uma mulher que soube cair e que teve mestria em se levantar.