Lisboa, cidade de encontros e reencontros culturais, guarda sempre espaços de descoberta que surpreendem até os mais habituais exploradores da sua oferta museológica. O Museu do Oriente, que foi inaugurado em 2008, é um desses exemplos que, preserva o património cultural asiático em coleções que retratam a presença portuguesa.
Durante anos, conhecia-o apenas de nome, mas foi preciso atravessar as suas portas para perceber a verdadeira dimensão da sua riqueza e do impacto que proporciona a quem o visita.
A Fundação Oriente, responsável pela sua criação, soube transformar este edifício industrial num santuário de diálogo entre o Ocidente e o Oriente.
O museu apresenta uma coleção vasta e diversificada, estendendo-se por temas que vão da influência portuguesa na Ásia às tradições culturais orientais, passando por artefactos religiosos, marionetas de sombras e artefactos de comércio.
Contudo, o museu não se limita a ser um espaço de contemplação; é uma ponte viva entre dois mundos. A exposição permanente apresenta uma viagem bem estruturada pela presença portuguesa no Oriente. Desde mapas antigos que documentam as primeiras rotas comerciais até porcelanas, biombos e outras peças fazem parte de um importante acervo cultural do museu.
Tudo nos transporta para um tempo em que Portugal era um protagonista na história global. O espólio não se limita a relíquias distantes; há também espaço para perceber como estas interações moldaram a identidade luso-asiática.
Outro ponto de destaque é a coleção de marionetas ou bonecas asiáticas, uma das maiores da Europa. Estes objetos, belos e enigmáticos, revelam a importância do teatro de sombras em países como a China, a Indonésia ou a Índia.
Há algo de mágico na forma como estas figuras ganham vida, representando mitos e lendas que, apesar de distantes, ainda ressoam na nossa própria tradição oral. A vertente temporária do museu é igualmente rica, com exposições temporárias (por exemplo: Japão: Festas e Rituais ou o Teatro Kabuki e a Estampa Japonesa) que variam entre a arte contemporânea asiática e mostras dedicadas a temáticas específicas, como a caligrafia chinesa, os samurais japoneses ou as religiões do Oriente.
Cada visita pode ser uma experiência completamente nova, algo que torna este museu um espaço dinâmico e em constante renovação.
O Museu do Oriente não é apenas um espaço de exposições, é também um polo de interação e aprendizagem. A programação inclui ciclos de cinema asiático, conferências, workshops de caligrafia, artes marciais e até gastronomia oriental.
Esta abordagem faz com que o visitante não seja um mero observador, mas um participante ativo na descoberta destas culturas.
No meu caso, esta visita serviu para desconstruir a ideia de que o Oriente é um bloco homogéneo e distante. Cada sala revela níveis de diversidade, mostrando como diferentes civilizações, com crenças e tradições próprias, se interligaram ao longo dos séculos.
Além disso, a organização dos espaços e a forma como as peças são contextualizadas permitem uma compreensão profunda, mesmo para quem não tem um conhecimento prévio sobre estas culturas.
Se há algo que esta visita ensinou-me, foi que o Museu do Oriente não se esgota numa única passagem ou visita. Há sempre algo mais para redescobrir: novas peças, novas exposições e novas perspetivas a contemplar.
Para os turistas, é uma oportunidade única de perceber a ligação histórica entre Portugal e a Ásia. Para nós portugueses, temos a oportunidade de explorar um lado menos conhecido da nossa identidade cultural, nomeadamente a nossa relação milenar com a Ásia.
Seja pela beleza dos objetos expostos, pela riqueza dos temas abordados ou pela envolvência das atividades que proporciona, o Museu do Oriente merece ser visitado, revisitado e uma ótima recomendação para quem aprecia o mundo oriental.
Na verdade, mais do que um espaço dedicado ao passado, às relações bilaterais e culturais entre Portugal e a Ásia, este é, sem dúvida, um museu que continua a contar histórias, a criar pontes e a inspirar novas descobertas.
“Uma viagem milenar começa com um único passo.”
in Lao Tzu
Nota: este artigo foi escrito seguindo as regras do Antigo Acordo Ortográfico”.