Greves para que te quero?

O Orçamento de Estado foi apresentado, está em discussão e, como já era esperado, traz os tão malfadados cortes que, mais cedo ou mais tarde, teriam de acontecer. Com os cortes vêm os protestos e, consecutivamente, as greves. No seguimento das medidas do orçamentos, os sindicatos, num rasgo de originalidade, criaram quinze dias de greves que irão até ao dia 9 de Novembro, onde irá ocorrer uma manifestação nacional.

Não tenho nada contra as greves e as manifestações, muito pelo contrário. Vivemos em democracia e, acima de tudo, temos o direito de pensar, de ter opinião e de exigir melhores condições de vida. Contudo, tenho uma forte urticária com sindicatos, mas já lá vamos!

Não tenho nada contra as greves, mas em Portugal não se fazem greves! Tirando vários casos, felizmente, fazem-se verdadeiras extensões de fim-de-semana. Ora veja-se que a primeira greve, dos CTT (que vêem na privatização um bicho, mas que, provavelmente, mais de metade dos trabalhadores nem sequer ainda se informou sobre o que vai acontecer na dita operação), é uma paralisação de 24 horas já esta sexta-feira. A ela vão-se suceder outras na Carris, no Metro e na CP, que na verdade nunca são paralisações de 24 horas, são sempre de muitas mais, por causa dos turnos e das confusões do costume. Culminamos este movimento com a grande greve nacional da função pública a 8 de Novembro, quem diria, sexta-feira!

O que poderia ter um impacto positivo e forte na sociedade passa a ser uma palhaçada. O sistema sindical e a ferramenta da greve pararam no tempo, mas por volta do início do século XX, tendo na verdade até piorado substancialmente. Os trabalhadores não querem saber da greve, ficam em casa. A greve é um negócio de uma classe que deveria ter estatuto profissional, a classe sindical. Os sindicalistas são verdadeiros profissionais, que se mantêm nos cargos durante eternidades, desconhecendo por completo, na prática, as profissões que estão a defender. Quando há crises e problemas, vêm cá para fora gritar a bons pulmões sobre direitos, quando eles têm mais do que direitos e lugares garantidos. Sempre me questionei como é que um determinado líder sindical conseguiu fazer um brilhante caminho académico até ao doutoramento, ou como outro que, há mais de 30 anos, não exerce a profissão consegue defender os trabalhadores.

Quando queremos ser respeitados, devemos dar-nos ao respeito, mas os sindicatos e as centrais sindicais, pela promiscuidade da ligação partidária (que nem vale a pena explorar, porque é sobejamente conhecida) e pelas cadeiras de poder que parecem ter donos bem pré-definidos, têm perdido o respeito que as populações tinham por eles. Note-se que, em algumas situações, todos estes cortes e confusões têm ajudado a trazer ao de cima as regalias, que agora estão na calha para serem retiradas, e que mostram a injustiça perante outros trabalhadores do Estado e, principalmente, perante os privados, como é o caso de subsídios de alimentação de 10 euros diários, ou cortes de cabelo gratuitos, entre muitos outros.

Os únicos afectados pelas greves são os utentes dos serviços, que não conseguem muitas vezes ir trabalhar, mesmo que o queiram e precisem fazer, ou que vêem os seus trabalhos afectados. Assim como a economia, que pára e piora, ao contrário do que seria positivo para os próprios trabalhadores, mas pelos vistos o direito de uns impede o direito de outros. Urge uma renovação dos sindicatos e dos meios utilizados, mas, principalmente, uma certa limpeza “moral” nos estatutos, nos privilégios e nas regras que os regem, eliminando as teias de interesses que, todos nós sabemos, existem dentro destes organismos.

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