Odeio aqueles olhares lânguidos, cheios de desespero e despidos de orgulho. Mas é isso que recebo quando coloco o meu batom vermelho.
Odeio aqueles olhares repreensivos, cheios de medo e repúdio de uma sociedade que não me identifico. Mas é isso que recebo quando me intitulo de feminista.
Não é definitivamente o meu objectivo recebe-los. Nem tão pouco provoca-los. Se pudesse, exterminava essa indiscrição tão comummente aceite perpetuada numa cultura, que se dita evoluída e se nomeia sapiente. Assim, tão preto no branco.
Fazer o quê?
Mudar o que pode ser mudado. Hoje. Agora. Pare de ler isto e pense. Pense em quantos julgamentos fez da sua colega de trabalho que chegou com um sorriso radiante, de batom vermelho posto e que o levou a conjurar tudo menos a inocência de um belo repuxar de lábios. Pense em quantas criticas e piadas lançou, em tom de gargalhada, sobre mulheres e a sua inferioridade. Actos simples que condenam quem é aos olhos de sobre quem os faz. Actos simples que são bem complicados.
Fazer o quê?
Lutar parece ser um desperdício numa sociedade que prefere ver-nos caladas, do que a libertinar (na boca do povo, até a libertinagem se torna verbo quando de mulheres se tratam). É mais fácil exigir que nos adequemos a algo inadequável, sob pena de… continuar tudo igual?
Não é o vermelho que devemos mudar, sob pena de estarmos a arriscar, sob pena de sermos ousadas, sob pena de estarmos inferiorizadas (mais uma, mais duas e mais três mil vezes) a uma escravatura em que homens podem, mas mulheres não devem.
Devemos lutar, sim! Lutar até que o vermelho já não seja só o do nosso batom, mas a cor da reprovação da sociedade, marcada em cada rosto, perante quem não sabe respeitar, mas exige ser respeitado. Lutar até que “feminista” não seja um insulto cuspido ao vento, mas um título que todos se orgulham de adquirir com o nascimento.
Não sou nazi, mas recebo o mesmo tratamento quando uso o meu batom vermelho.
Sou Hitler de saias, cada vez que me afirmo, me estabeleço, me imponho com o nome de feminista.
Orgulhosamente, eu e tantas outras, continuaremos… feministas de batom vermelho, numa sociedade a preto e branco.