Vivem-se tempos difíceis em que nos são “gentilmente” solicitados cada vez mais esforços, sem que os portugueses vejam qualquer tipo de retribuição e por retribuição entenda-se: condições. O ordenado mínimo é dos mais baixo da Europa e os impostos, esses, são cada vez maiores. Esta combinação resulta numa qualidade de vida cada vez mais precária e em taxas de desemprego recorde.
De acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), no 4º trimestre de 2012, Portugal atingiu 16,9% de desempregados. O governo espanta-se com tal número, “que haverá superado as suas expectativas” e Pedro Passos Coelho afirma que “o desemprego é a situação mais dramática que temos no processo de reajustamento económico e é socialmente muito doloroso”. Espantos e afirmações à parte, vivemos numa era de “pescadinha de rabo na boca”, onde deixamos de ter esperança em procurar a solução.
Os esforços são para pagar dívidas contraídas pelo estado português, as que se conhecem e aquelas que, quem sabe, ainda estão por descobrir. Os ordenados são cada vez mais baixos, independentemente da experiência profissional, ou das qualificações. 40% dos desempregados representam cerca de 150 mil licenciados que não encontram emprego, no país que lhes deu berço e no qual resolveram mais do que investir, acreditar. A população jovem e activa, aquela que poderia contribuir para o crescimento do país, simplesmente não tem como e, no limite, vê-se forçada a emigrar.
Esta situação em que nos encontramos gera um descontentamento profundo e uma descrença ainda maior em quem nos governa. Diariamente, as medidas de austeridade que são pensadas e as que efectivamente entram em vigor fazem com que se unam as vozes, para expressar a revolta e a impotência sentidas, em busca da justificação dos meios que são utilizados que parecem não ter fim. Numa situação ideal e num país em pleno funcionamento, o pagamento elevado dos impostos seria utilizado em soluções para os seus contribuintes que, em soma, passariam a ter melhores condições de vida, desde a Saúde Pública à Educação.
Parece ser de outro continente, mas, provavelmente, o que a diferencia foi ter recusado a entrada na União Europeia. A Noruega é conhecida pela sua elevada carga fiscal imposta aos seus cidadãos, porém, tal medida parece não incomodar quem por lá habita. Comparando estados, a diferença é que o norueguês garante praticamente tudo: saúde, educação, protecção social.
Recentemente, numa reportagem exibida sobre este tema, deram um casal jovem norueguês como exemplo. Por lá, a licença de maternidade permite às mãe ficarem 8 meses em casa com os seus bebés, recebendo o salário na totalidade. Finda a licença da mãe, é a vez do pai ficar em casa, entre 3 a 4 meses, com as mesmas regalias. Jovens arquitectos com ordenados a rondarem os 7000 mil euros, a taxa de IRS é de 37%, sendo que, entre os dois, são 74% dos seus ordenados para o estado, mas admitem que os pagam com prazer. Têm a devida retribuição, por exemplo, através do subsídio dos Serviços Sociais que é proporcional aos descontos e incentiva a natalidade. São factos como este que fazem com que a Noruega já tenha sido rotulada como o país mais feliz do mundo, dado à qualidade de vida que proporciona. Vivem verdadeiramente em democracia e sob a premissa de um estado social para todos e pago por todos.
Por cá pagam-se taxas de IRS quase tão elevadas como as da Noruega e assiste-se a uma retribuição deficiente, ou mesmo nula. Existem utentes em lista de espera tanto para um simples médico de família como para uma operação vital. As escolas públicas são pagas, os livros e os abonos escolares são apenas atribuídos sob requisitos tão restritos que, muitas vezes, a sua atribuição não é nem clara, nem justa. A licença de maternidade varia entre os 120 e os 150 dias seguidos, sendo que no caso dos 120 dias o subsídio de maternidade é igual a 100% da remuneração de referência, enquanto que no caso dos 150 dias, já só se conta com 80%.
Entre cá e lá torna-se fácil perceber as disparidades entre estes dois países, a semelhança nos descontos e a total diferença na forma como cada um dos estados retribui o que por nós é descontado. Aqui vive-se para pagar contas, que parecem não ter fim, algumas nem tão pouco são nossas, e quem não está contente que emigre (pá!).