Egoístas, narcisistas e mimados, mais parece que estou a entrar a pés juntos em direção aos peitorais de alguém. Mas isto são palavras que leio diariamente quando me deparo com comentários e opiniões sobre a minha geração. Sim, adivinharam, sou da geração millenial….
Não é que me identifique com alguma coisa especifica. Mas, fazendo as contas, bate certo.
Pessoalmente, não ligo a traços de personalidade ou filosofias de vida a uma geração especifica. Para mim, sermos da mesma geração, significa que ambos víamos o Batatoon e o Dartacão (e não esquecer as Navegantes da Lua, muito importante!). No entanto, pelo que me ando a aperceber ultimamente, muito por culpa das redes sociais, temos presente uma guerra de gerações, em que o pessoal da minha idade é constantemente atacado, e chamado de narcisista, egoísta, preguiçoso, desligados e tudo o mais.
Gente, na nossa génese, somos todos iguais. Somos preguiçosos? Claro que sim! Queremos trabalhar? Claro que não!
E antes que me venham os Velhos do Restelo, digam lá! Pessoal que trabalha muito, vocês adoram isso, não é? Vocês adoram levantar-se às 7 horas da manha, apanhar transportes públicos, ir para o vosso trabalho, chegar a casa de noite, mal ter tempo para os vossos filhos, e ir para a cama a pensar “o que raio é que eu estou a fazer com a minha vida?”?
Resposta: claro que não!
Ninguém gosta!
Especialmente, se estivermos cientes do que se passa à nossa volta! Trabalhar 10 horas por dia, para receber o ordenado mínimo ou pouco mais, e quando saímos porta fora depois do expediente, descobrimos que o patrão tem um carro novo de 60 mil euros.
Nós não estamos em casa dos nossos pais, porque nos apetece, mas, sim, porque não conseguimos conciliar o ordenado mínimo, ou até um pouco mais, com uma casa e despesas. Tenho 27 anos e sou das mais novas do meu grupo de amigos. E nem um que já more sozinho. Estou quase a fazer dois anos de namoro e já me perguntam “então e quando é que vão morar juntos?” e a conversa é sempre a mesma:
Eu – “Nós bem que queremos, mas não está fácil.”
Pessoa aleatória – “Mas há aí tanta casa para alugar.”
Eu – “Pois há, mas está tudo por volta dos 600 ou 700 euros por mês, sem falar nas cauções de 1000 euros que pedem…”
Pessoa aleatória – “Ah… pois, assim mais vale comprar…”
Eu – “Pois… um T2 na nossa área é cerca de 200 mil euros…”
Pessoa aleatória – “Pois…”
Eu – “Pois…”
E isto repete-se. Sempre que vemos alguém dos 40 anos para cima. Sempre!
Aliás, nada mais frustrante do que finalmente obter a independência, e ter de voltar para casa dos pais.
É isto que o mercado de trabalho está a fazer a muita gente. Usa, abusa e depois manda embora alguém que se dedicou a uma causa. Ou pior! Alguém que pagou para trabalhar praticamente. Sim, estes casos existem. Especialmente trabalhadores de centros comerciais ou em locais distantes da área de residência, os custos de transporte, não praticamente do mesmo valor que o aluguer de uma pequena casa.
O nosso problema actualmente, passa por querer efectivamente trabalhar, querer um trabalho condigno, e não conseguirmos. Peço desculpa se não queremos sujeitar-nos a trabalhos em que nos gritam constantemente aos ouvidos ou que nos liguem às 4h da manha a perguntar por relatórios de vendas (esta é de experiência própria minha gente!).
Queremos um trabalho decente, mas são poucos. E mesmo quando encontramos um sítio em que até “nos damos bem”, estamos sempre com uma vozinha lá no fundo que diz que tudo pode cair por terra brevemente.
Porque já não existem trabalhos para a vida. Quando nos atacam, esquecem-se que trabalharam 30 anos no mesmo sítio. Isso, para nós não vai existir!
Começar uma vida, inclui um equilíbrio entre a família e a vida profissional. Neste momento, é um imenso risco. A crise trouxe algo de maravilhoso ao mercado de trabalho: o medo! Ficamos calados 99% das vezes. Quando ganhamos coragem e reivindicamos, a resposta é “Então, se não estás contente, podes sair, temos uma fila de gente pronta a ocupar o teu lugar!” E isto é transversal a todas as gerações e todas as áreas de trabalho.