E se te dissessem que hoje é o teu último dia, o que farias?

De certeza que a primeira coisa em que pensou foi se despedir de todos os que amas ou passar a maior parte do tempo com eles. Ou até, talvez, fazer alguma “loucura” já que não colherá consequências. Ou confessar algo tenebroso! Afinal, que mal tem se o mundo acaba também?

Talvez esteja aqui o nosso erro: é provável que este não seja o teu último dia, mas que tal ainda assim passares a maior parte do tempo com quem ama? Não indicaria fazer qualquer “loucura”, algo muito impensado, ou assim, mas… Por que não? O arriscar pode fazer parte da nossa caminhada e muitas das vezes, se faz necessário.

Seria isso um dos nossos defeitos? De só darmos o devido valor quando estamos prestes a perder. Se calhar, a pergunta pode ser: Como podemos mudar isto? O que importa mesmo fazer?

Vale a pena perder tempo com coisas pequenas, picuinhas ou reclamações em que nada levam? Tantas estórias tristes e repentinas acontecem por aí e nos fazem repensar, mas normalmente só na hora em que ouvimos. Como algum acidente que se perde um ente querido, uma doença alarmante, uma pessoa que “foi, mas não voltou”. Captamos, nos sensibilizamos, mas depois, não consertamos. Não ajustamos o que deveria e nem mesmo, por vezes, levamos de aprendizado.

E continuamos a perder tempo. A nos desgastar por pouco. A dramatizar. A reclamar. Querer resolver o que nem sempre tem solução. A sofrer. E perder.

Isso lá vai mudar em quê? Total perda de tempo. E ele – o tempo – voa.

O aproveitar pode estar nessas lacunas. No preencher a sério do que realmente vale. O resto fica atrás. Focar à frente e cuidar desses detalhes! Estressar porque alguém disse algo que não gostou, se remoer porque o amigo falou algo desagradável ou porque descobriu que alguém falou mal de ti… Ou um trânsito ruim, algo que quebrou, o chefe que reclamou. Isso é pequenino demais diante do privilégio de estarmos aqui. No hoje.

Devia ser meta de vida valorizar a sério a saúde, a família, os amigos, quem te quer bem, a casa, a morada. O acordar, andar, comer, ler, respirar e viver. O privilégio de até conseguir fazer xixi quando tiver vontade (quem já passou por retenção urinária vai entender bem), de conseguir mastigar devidamente, ter controle do esfíncter e andar sem qualquer ortose ou prótese, com liberdade. Os momentos ditos como pequenos.

O viver está mesmo nas entrelinhas.

Não é preciso saber de uma notícia triste, uma doença terminal ou uma viagem de mudança repentina para que possamos curtir quem amamos. Seja amigo ou parente, se é boa gente merece e merecemos nos ter por perto. Aproveitando. Vivendo.

Quem já passou pelo susto fazer uma cirurgia de emergência, um acidente repentino ou o simples ato de abrir o resultado de uma biópsia e imaginar como isso poderia ter mudado a vida, sabe talvez direcionar o viver todos os dias de forma mais agradecida e o alívio de saber que está ou que ficou resolvido, é mesmo imensurável aos outros olhos. Era só plateia a dizer: vai ficar tudo bem. Quando você é o protagonista, a intensidade aumenta.

Usa a melhor louça (ou loiça) nos seus dias comuns. Não espere a visita ou receber alguém especial. Essa pessoa é você e os seus. Se priorizar. Valorizar o hoje e o momento do agora. Os do que você ama e os que valem mesmo a pena. Não espere o sofrimento para ter o reconhecimento. Agir antes é primordial!

Não sugiro que você viva cada dia como se fosse o último. Isso dá um ar até meio mórbido ao contexto, sem contar a ansiedade, instabilidade, irresponsabilidade e angústia que isso podia gerar. Mas também não te diria para continuar vivendo como “pisando em ovos”, acumulando tensão e guardando tudo – literalmente – para o futuro. Por vezes, o arriscar se faz necessário. O aproveitar o momento que não volta e valorizar o que se têm. E quem se tem.

Se é que posso sugerir algo, seria o de viver cada dia exatamente como é, sem parecer piegas ou uma frase clichê, mas considerar que cada vez que acorda é um presente, uma oportunidade – de fazer igual ou diferente – além de ser uma dádiva intransferível. Que possamos valorizar um café gostoso com uma amiga, um papo bom, uma conversa “jogada fora” com assuntos aleatórios, na mesa de um almoço corrido, no meio da semana, com alguém que você queira bem.

Uma ida ao cinema com seu filho, sobrinha ou amigo. Uma fugida da rotina de trabalho para buscar alguém querido, seja no aeroporto, seja em casa, rodoviária. Correr no final do dia para dar tempo de comer um bolinho e chá quentinho, na casa dos avós, dos pais, dos filhos ou dos amigos. Ou até saber enxergar à volta. O caminho que faz para ir e voltar para casa, uma estrada bonita que é rotina, reparar na paisagem, valorizar o “pequeno”. O detalhe. A mesmice. A rotina que até pode nem ser tão má assim.

Desejo mesmo é que ainda que no final de cada dia você possa olhar pra trás com sentimento de ter vivido e não sobrevivido. Que mesmo com estresses normais do dia-a-dia ou de notícias nem tão boas assim, conseguimos relevar e entender que o que é inevitável não temos controle e nem por isso é mau.

O nosso tempo é diferente do que está programado para nós. Ninguém sabe do amanhã. Só podemos ter a certeza do hoje, do aqui e do agora. Sem frase de efeito. É a realidade.

Não corra contra o tempo. Corra à favor. Ele agradece e você também!

Não espere o “não há mais o amanhã” para querer agir. Faça acontecer e faça agora. Viva na tranquilidade e com a consciência sossegada em saber que sua parte em reconhecer o presente que é a vida e quem faz parte dela merece gratidão, independente qual seja – caso haja – a sua religião. Agradeça!

Nota: Esse texto foi escrito seguindo as normas do português do Brasil.

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