Era cedo. Muito cedo, mas a ânsia de estar com ela não o deixava dormir. Uma sensação nova e tão forte que até o sono lhe retirava. Sentia-se bem. Ligou o rádio. Seis horas? O sol já se vislumbrava bem e a luz interior era ainda maior.
Tomou banho e sentia cada músculo do seu corpo como se fosse a primeira vez. Enquanto deslizava o sabonete sentia o corpo dela, junto ao seu, como se fosse mesmo seu. Até o seu cheiro, a doce de flores, se entranhava em si. Que era aquilo que estava a acontecer consigo?
Fada ou bruxa, não sabia dizer, mas alguma coisa lhe havia feito. Uma espécie de feitiço bom que o levava a caminhos ainda desconhecidos. Imaginava a sua presença e o corpo reagiu á sua lembrança. Era urgente o reencontro. Queria-a beijar, percorrer o seu corpo, deliciar-se com a sua pele, saborear o seu tão especial paladar. Ardia de desejo.
O toque da campainha acordou-o desses pensamentos. Quem seria àquela hora? De toalha enrolada à cintura, sem nada mais que o cobrisse, abriu a porta. Era ela que sofria da mesma insónia. Abraçaram-se e a peça que cobria a sua nudez soltou-se. O amor é sempre urgente. A todas as horas e sempre. Amaram-se sem pudores nem pressas, numa valsa que só eles sabiam e haviam ensaiado.
Os beijos, esses ciganos do engano, devoravam os lábios e as línguas dos amantes. Línguas que desciam e percorriam corpos ávidos de sensações e de delícias. Corpos que tremiam de emoção e de prazer. Corpos que se davam sem serem rogados. Corpos que se completavam e cruzavam a mesma linha.
A música, qual aguarela impressionista, soava a complemento, a cenário de filme romântico onde os amantes finalmente se encontravam depois de desencontros e aventuras. Pertenciam-se e eram um só, dois corações a bater ao mesmo ritmo, um arfar que se movimentava na mesma cadência e que terminava no mesmo clímax.