Dizer ao outro tudo o que sentimos é, por vezes, muito difícil.
Torna-se complicado contrariar uma teimosia do outro [que já não amamos], que não quer ver a realidade do que somos. Esse outro, que apenas aceita como resposta um sim, sem que perceba que este caminho já nos está a fazer mal. O outro, que não consegue ver o sofrimento estampado no nosso olhar. É essa a parte mais difícil de percorrer nesta estrada, que deixou de ter um destino e passou a ser só caminho não nos leva a lado nenhum.
É preciso sem demoras cortar a amarra que nos liga ao passado e que nos sufoca no presente. É preciso gritar para dentro de nós mesmos que chega. Dizer alto e em bom som que chegou o fim. Dizer que já não é aquele o caminho certo para nós.
Há que mudar o discurso. É tempo de dizer a verdade, doa a quem doer. Mais vale uma ferida exposta, um coração que sangra, do que uma alma oprimida numa espaço demasiado pequeno para a dimensão de tudo o que sente. O tempo vai sarar tudo e é melhor do que uma dor silenciosa, que nos consome todos os dias. É urgente curar esta doença e o remédio está nas nossas mãos. A cura depende somente da nossa escolha. Vai doer no momento, mas depois passa. A vida é o nosso melhor remédio. A dor só nos dói quando descobrimos o que nos fez [faz] doer. É nesse momento que descobrimos de onde ela chegou e o que nos dói, mas também é aí que começa o processo de cura.
Agora, chegou a hora certa de soltar tudo o que nos oprime. É preciso matar as sombras em que nos temos escondido e que já não têm as nossas formas e, por isso mesmo, já não são o melhor esconderijo para nós. É hora de sair da nossa linha de conforto, pisar chão desconhecido. Gritar, chamar pela coragem, que existe dentro de nós. Só esse nosso alento nos poderá fazer voar nesse céu que espera por nós, para vestir com um sorriso esse sofrimento que nos tenta rasgar. Esse vestido que o passado fez em farrapos e que nos deixou nus. Chegou a hora de o mudar, de trocar o passado por algo mais colorido e com as nossas reais medidas. A vida exige-nos que tenhamos força para voltarmos a amar.
E o que é a vida sem amor? Nada. Porque sem amor vivemos rastejando no tempo, vivemos sem viver.
A vida é o livro a que vamos dando cor a cada dia que passa. O livro com que todos os dias o destino nos surpreende, deixando-nos uma mensagem nova que nos fará sorrir. É por isso mesmo que ele deve ter sempre uma cor diferente. A cor que sela o reflexo da nossa maneira de escolhermos o destino. Somos nós que escolhemos a cor dos nossos dias, tornando-os negros quando as escolhas são erradas. Ou, então, coloridos quando tomamos os caminhos certos, que nos podem conduzir à felicidade. Tudo é o reflexo das nossas escolhas, que tantas vezes não são as mais adequadas e nos fazem continuar por caminhos que deixaram de ser nossos. Escolhas que nos levam a sofrer por dores que já deveriam ser arquivadas na nossa memória.
Parece tão fácil viver. Parece tão fácil fazer escolhas. No entanto, a verdade é que é, por vezes, tão difícil fazer o outro entender que com ele não vamos a lado nenhum. É complicado fazê-lo ver que temos que seguir viagem sozinhos. Que já não queremos a sua companhia. Que ele ficará por ali, no lugar que lhe pertence e do qual não quer sair. Enquanto nós temos que apanhar outro comboio. O comboio que nos levará para outra estação, onde o amor nos espera. Onde poderemos abraçar a tão desejada felicidade.
E a frase que parece curta torna-se a mais difícil de dizer: «Chega!»
Temos que por um ponto final em algo que já deixou de existir.
«Chega!» é o grito de liberdade do nosso coração, que há tanto tempo vive oprimido. Fica aí, que eu vou e já não volto. Chega! Acorda, que nós já não temos volta. Escuta bem este que é o grito da minha alma. Quero libertar o meu coração, dar-lhe asas. Não o vou impedir de ir por aí pelo mundo em busca do que lhe pertence. Fica aí, que eu vou sem ti.
Obrigada pelo passado que dividimos, mas não há futuro para nós.