Ser mãe é uma mudança importante, desafiante e transformadora na vida da mulher

Quando tive o meu filho, o momento foi transformador para mim como pessoa. Durante a gravidez  algumas de nós já sentem algumas diferenças, como uma maior responsabilidade perante aquele ser pequenino dentro de nosso ventre e que depende apenas de nós. Mas a verdadeira aventura começa quando o pegamos pequenino nos braços. Podemos até estar um pouco atordoadas devido a tudo o que aconteceu à minutos, porque é de facto um acontecimento impactante na nossa vida, mas a transformação interior é imensurável. Reconhecemo-nos, mas ao mesmo tempo parece que deixamos de ser quem éramos até ali. A maternidade é uma descoberta que fazemos sobre nós diariamente, não só fisicamente, como psicológica e emocionalmente.

Há mães que dizem que assim que pegaram o filho nos braços o começaram a amar incondicionalmente. O meu caso não foi propriamente assim, eu já o amava, mas não como amo hoje, que tem três anos e já partilhámos tanta coisa.  Quando peguei no meu filho ao colo sei que estava com um sorriso embevecido e sabia em todas as minhas células que já não vivia sem ele. Sinceramente nem me recordo se chorei muito ou pouco quando nasceu. Era tudo tão novo e bonito, tão tranquilo e ao mesmo tempo assustador! No final da cesárea ele ficou a ser limpo e pesado e eu fui para o quarto. Aquele tempo de espera, até o trazerem aumentava a minha ansiedade em querer saber se estava tudo bem e finalmente o ver, também me permitia descansar e descer à terra, ou seja, inteirar-me de que o dia chegara.

Dentro de momentos ia pegar no meu filho e era como se ser mãe se torna-se algo palpável. Estava ainda grogue da cesárea, com o corpo dormente e a cabeça zonza da anestesia quando o vi chegar nos braços do enfermeiro. Ainda não nos tínhamos apresentado e olhado ao pormenor quando ele se aninhou a mim para o amamentar. E foi aí, foi durante essa ligação que renasci. Infelizmente não vos sei explicar, apenas sentir e desejar que um dia o possam sentir também. Enquanto o olhava e acariciava a sua pequena mãozinha, fui invadida por um turbilhão de sentimentos receios. E o maior era se iria conseguir desempenhar bem o meu novo papel, se estaria à altura de criar e educar um ser humano da maneira que é expectável. Ou seja, se sendo eu mesma uma pessoa falha e em constante aprendizagem, teria ainda assim a capacidade de contribuir para ser ele um menino, e futuramente um homem correto, sensível, com os seus ideais afincados e forte perante ele mesmo, perante o outro e claro, perante a sociedade que tanto quer incutir a sua verdade. Durante estes poucos, mas intensos anos de maternidade, percebi que essas receios acompanhar-me-ão enquanto for viva. É aprender a lidar.

Com o nascer de um filho, nasce também uma mãe.

Em conversa com outras mães percebi que muitas, após terem um filho, passam pela dita “fase de luto” da pessoa que eram. Eu, felizmente, não senti isso. Quando engravidei senti que a minha vida tinha ganhado um propósito. De um modo inato comecei a pensar no “nós” ao invés de “eu”. Não li livros sobre maternidade nem fui aos cursos de preparação para o parto, nem pós parto. Primeiro porque fui mãe na pandemia e segundo porque não achei que iria fazer grande diferença. Adquiri o conhecimento que achei necessário através de algumas pesquisas e relatos de outras mães: como aliviar cólicas, dar o primeiro banho, como agir um engasgo entre outras,  mas maioritariamente foi uma descoberta a dois. Por vezes a três, com o pai. Até porque os bebés não são todos iguais, existem algumas semelhanças mas cada um reage às situações de um modo muito próprio. Por isso é que não se deve opinar na vida alheia. Aconselhar sim e até onde os pais o permitirem, mas mais que isso não, porque ninguém conhece melhor o seu filho que os próprios pais.

Ser mãe faz-nos destas coisas, como ser menos tolerantes com invasões e opiniões que não acrescentam. Torna-nos mais destemidas perante as adversidades, aguça-nos a querer aprender mais, saber mais, viver mais!

Eu tinha a perfeita noção de que a minha rotina ia girar 360º e que o que eu priorizava antes, provavelmente seria repensado e quiçá substituído por outras prioridades. Mas tudo bem, pois eu tinha-me mentalizado para essa mudança e ser mãe era o meu maior desejo.

Quando vi o rosto do filho pela primeira vez ainda na mesa de operações foi uma emoção única e a cada dia que passa  o amor (que já parecia infinito) aumenta.  Contudo, é importante ter a noção de que a minha experiência é apenas minha e há mães que demoram um bocadinho mais a gerir todo esse turbilhão de sentimentos e sentem-se mais inseguras. Muitas sentem-se culpadas e julgadas quando não sentem um amor imenso assim que pegam no filho. Outras sentem uma maior dificuldade em voltar à rotina e por vezes passam pela depressão pós parto. Julgar essas mães que na verdade precisam de acolhimento é completamente errado e cruel. Eu acredito que cada pessoa tem o seu tempo e está tudo bem. É uma realidade nova, um processo como referi antes de aprendizagem não só para os bebés, mas também os pais. É importante não romantizar a maternidade! Mas também é importante parar de a equiparar a um bicho de sete cabeças, para que possamos educar as próximas gerações com mais consciência. É preciso um equilíbrio.

Óbvio que não corre sempre tudo bem, nem é sempre tudo maravilhoso. A maternidade de um modo geral é uma montanha russa em que somos colocadas à prova diariamente. Esqueçam a ideia de que as hormonas acalmam logo após terem um filho. Elas só estão camufladas pois sentimos tudo mais intensamente e temos as emoções sempre à flor da pele. Criamos uma nova rotina que até à data desconhecíamos ser possível. Só nos primeiro meses lavar bem o cabelo torna-se a menor das nossas preocupações e ir à casa de banho passa mesmo a ser um luxo,  pois basta um mísero barulhinho que nos levantamos e vamos a correr ter com o bebé, para depois o encontrarmos tranquilo a morder os dedos. E, sem falar daquele melhor amigo que de um momento para o outro abolimos da nossa vida: o dormir. E as cólicas? Passamos o dia inteiro se preciso a massajar e a estimular o nosso bebé, na tentativa de lhe diminuir aquelas dores horríveis e que nos fazem chorar desmesurável mente por nos sentirmos impotentes. E os engasgos? Morremos e só voltamos à vida quando se começa a acalmar. Para mim, estes dois últimos exemplos foram os piores da maternidade. Lembram-se de ter dito que a maternidade nos tornava mais destemidas? Ela é de extremos, pois também nos torna bem mais frágeis em outras situações.

A empatia é o mais importante da maternidade.

São tantas experiências novas e tão diferentes, por vezes mais positivas por vezes menos. E está tudo bem, faz parte. Não és uma má mãe por termos mais dificuldades com, contigo ou com a casa. Nem és a mãe perfeita, porque geres tudo muito bem e nada te afeta. És, sim, uma mãe a aprender e a ultrapassar com o teu filho todas as peripécias e fases da maternidade. Cria-se uma conexão forte e de entendimento, mesmo sem palavras, entre mães e filhos.

É desafiante? É. Vale a pena? Se quiseres ser mãe, na minha opinião nada valerá mais!

Mas isso não significa que não exista um lado difícil na maternidade. Só que o bom da maternidade, faz com que as dificuldades comuns a todas nós, se tornem menos relevantes. É lindo ser mãe na sua essência, mas é preciso falar sobre a outra face. Precisamos julgar menos e ter um olhar mais empático por quem a vive.

A maternidade para muitas mulheres acarreta outras inseguranças. Sejam elas a autoestima, a depressão, o desânimo de não se conseguir gerir tudo no tempo que se precisa, a frustação no relacionamento devido à falta de apoio ou entendimento, desafios diários de como gerir o trabalho, tempo de lazer, tempo para os cuidados diários, entre outros. Há uma lista infindável que pode ou não tornar a maternidade, seja ela na gravidez ou após, a experiência maravilhosa ou menos agradável, vai de pessoa para pessoa.  Portanto, é preciso ouvir e saber respeitar as experiências vividas de cada uma de nós.

É preciso olharmos para a mãe ao nosso lado, saber ouvir e respeitar quando a sua experiência é diferente da nossa. Até porque todas temos backgrounds diferentes e isso vai influenciar também o nosso papel como mães. A rede de apoio é fundamental para que a trajetória da maternidade se torne mais saudável e menos difícil ou solitária.

Abraça a mãe que está ao teu lado e, se puderes, oferece-lhe ajuda para que ela tome um banho e coma uma refeição com calma. Empatia é tudo e não só te tornará uma melhor mãe, se o quiseres ser um dia, como um melhor ser humano.

Nota: este artigo foi escrito seguindo as regras do Antigo Acordo Ortográfico
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