Há pessoas, neste mundo, que ainda têm o condão de se expressar sem terem medo de o fazer, porque para elas não existe outra alternativa. A única forma de se entenderem como gente é transformarem e exorcizarem as suas experiências e tudo o que sentem.
Quando estas pessoas são criativas, então, todos nós ficamos a ganhar. Justin Vernon é uma delas.
A sua história e a forma como nasceram os “Bon Iver” pode ter acontecido de mil e uma formas. Contudo, para quem acredita e gosta da ideia do romantismo americano, certamente idealiza Justin Vernon há quase onze anos, isolado na cabana do pai em Wisconsin, trucidado pelo fim de um relacionamento e dizem algumas fontes com monocluose infecciosa, em pleno exorcismo criativo e metamorfose pessoal.
Em plena fase de isolamento existencial, Vernon agarra com unhas e dentes uma crise pessoal para a transformar num álbum sincero e saído das entranhas e cria assim os Bon Iver, ou seja, “Bonne Hiver” ou “Bom Inverno”, porque sem dúvida que assim o foi ou não teríamos ainda hoje as melodias e letras honestas, simples e que nos deleitam a cada álbum novo.
O primeiro álbum saído do gélido Inverno passado na cabana, “For Emma Forever Ago” é daqueles álbuns que, como Jimmy Fallon sugere após entrevistar Vernon, para degustar com um bom copo de vinho na mão (ou mais, porque não?).
Das mãos e mentes que caracterizam os Bon Iver, há a tendência da introspecção e dissecação pessoal, da análise das angústias da alma e das dores que são tanto de Vernon como nossas e que são libertadas através do seu som.
E apesar de terem ganho os prémios de “Melhor Novo Artista” e de “Melhor Álbum Alternativo” com o segundo álbum “Bon Iver, Bon Iver” (só por causa da honestidade deste nome já gosto deles), ainda na mesma linha pessoal do primeiro, Justin Vernon não se perdeu e continuou centrado no que acredita e a honrar o seu público com o último trabalho “22, a Million” editado em 2016, impulsionando o som com elementos de música electrónica, efeitos variados, sintetizadores, numa panóplia exploratória de quem não se cansa de se reinventar.
Em jeito de término, deixo por aqui o tema “I Can’t Make You Love Me” do álbum “Bon Iver, Bon Iver”, porque a seu tempo fez-me sentir na melodia e nas palavras as dores que também eram minhas. Permitiu-me também, enquanto o ouvia, limpar a alma. Não o posso cantar com a mesma originalidade de Vernon, nem com a sinceridade e vozeirão de Adele, que também já o cantou, mas a essência que lá está também já esteve em mim. Portanto, quanto a vós, não sei, mas quanto a mim, vou colocar os fones, acender uma vela e, antes disso, buscar o meu copo de vinho.