Um filme original, estranho e bizarro.
É assim que defino esta obra de Martin Scorsese, desconhecida para muita gente. Com um humor negro muito apurado, este filme conta a história de Paul Hecket, um empregado de escritório, que ao ir ao encontro de uma vistosa Mulher loira, acaba por se envolver numa alucinante e mirabolante aventura.
Uma série de peripécias bizarras acontecem ao protagonista yuppie durante uma noite no Soho.
Este filme é um exemplo de um curioso sub-género da década de 80, “A Desconstrução do Yuppie”, histórias que retratam um protagonista certinho, atrapalhado e financeiramente bem-sucedido, que sofre uma reviravolta na sua rotina diária, através de uma figura feminina ou de uma série de situações mirabolantes que descontrolam e mudam a sua vida.
Scorsese decidiu realizar o argumento que foi a tese de fim de curso de Joseph Minion, de modo a redimir-se do fracasso da sua última obra “A Última Tentação de Cristo” e regressar às raízes nas ruas de Nova Iorque com um filme pessoal, original e independente.
É também a forma que encontrou para exorcizar os seus demónios, ao retratar as experiências marcantes que teve nas suas relações.
Viu-se a si próprio nesta obra ao recordar o seu passado em Little Italy, quase ao lado de Greenwich Village, porque a sua educação católica, o ambiente italo-americano, não eram compatíveis com a cultura avant garde pertencente às personagens exóticas e boémias de Greenwich Village.
Trabalhar nas ruas de Nova Iorque foi uma experiência que o cineasta adorou e contribuiu para recuperar o seu sentido de humor, olhando para o futuro com maior otimismo.
E assim mais uma vez se comprova que as melhores histórias são as que vivemos!
Vale a pena ver este filme, para conhecer a versatilidade que os artistas podem e devem ter, para além de ser uma lufada de ar fresco face às histórias repetitivas que têm sempre maior divulgação.