Ao longo de décadas, a introversão foi considerada uma característica da personalidade negativa. Pessoas introvertidas eram erroneamente consideradas inaptas socialmente e até menos ineficazes em algumas actividades. A verdade, e que as pessoas introvertidas possuem características e habilidades altamente valiosas.
“O poder do silêncio” de Sylvia Loëhken é um livro que nos apresenta o “mundo” dos introvertidos. E quais as vantagens e desvantagens desta característica. Hoje, debruçar-me-ei sobre as vantagens.
Sylvia Loëhken (doutorada em linguística e comunicação) define uma pessoa introvertida como uma pessoa que é reservada. E, esta característica depende da personalidade de cada um. Ou seja, nós nascemos com tendência para sermos introvertidos ou extrovertidos. Segundo ela: “…os termos são mais fáceis de compreender se não forem encarados como opostos, mas como pontos extremos de uma escala”. A maioria das pessoas, encontram-se numa área moderada central, mas com uma tendência para a introversão ou a extroversão. Qualquer ponto do espectro é saudável, apenas as posições extremas podem causar problemas.
Ainda segundo a autora, a cultura em que estamos inseridos, também exige mais ou menos capacidade de introversão ou extroversão. “Um país como o Japãoencara como muito importante ser sossegado, solitário e meditativo.” Já países como os Estados Unidos da América, com uma “cultura extrovertida”, o silencio entre duas pessoas que conversam é tido como algo embaraçoso ou mesmo desagradável.
Entretanto, Sylvia Loëhken, diz-nos que quanto mais as pessoas envelhecem, mais estas tendem avançar para o centro da escala. O que torna a introversão mais acessível aos extrovertidos.
Apesar de depender da situação, da cultura e até da idade, tanto a introversão como a extroversão são traços de personalidade relativamente estáveis ao longo da vida. Evidenciados em certas características e tendências. No entanto para ela é fundamental responder a uma questão primordial: de onde vem a energia?
A autora refere que algumas pessoas obtêm a sua energia a partir do contacto que estabelecem com os outros. Por exemplo, existem pessoas que depois de um dia stressante recarregam as suas energias ao sair com amigos, a praticar um tipo de desporto. Isto é, um comportamento típico das pessoas extrovertidas.
Outras pessoas «encerram-se» e regeneram sozinhas. Com o mínimo de estímulos e conversa. No final de um dia stressante, o que mais querem é ficarem sozinhas, sem falar com ninguém. Ou apenas optam por estar com alguém do seu núcleo muito restrito. Se tiverem 3 ou 4 dias mais stressantes, necessitam de mais tempo para recarregar completamente as baterias. Estas pessoas são claramente os introvertidos.
Os introvertidos detestam demasiados estímulos. Pois, para eles, os estímulos “queimam-lhe as energias”. No contexto laboral, pode envolver uma grande quantidade de coisas que têm de tratar em simultâneo. Na vida privada, pode ser uma festa com muita gente desconhecida, música muito alta, uma ida ao shopping com muita gente… Para os introvertidos, o excesso de estímulos significa que precisam de se afastar para sítios mais calmos. Uma vez que os introvertidos necessitam de paz e sossego.
Não quer isto dizer, que os extrovertidos não necessitem de tempo para si e de alguns momentos de sossego. Mas, para os introvertidos, o “tempo a sós” é essencial para a sua existência. Caso pretendam recarregar as baterias depois do stress do contacto social e/ou laboral. Se não tiverem momentos de paz e sossego ficam irritadiços e cansados. Eles necessitam de mais tempo sem qualquer estímulo antes de regressarem de novo para a agitação do dia a dia.
Segundo Sylvia Loëhken “… nenhum destes tipos é melhor ou pior. Simplesmente apresentam necessidades diferentes. Quanto melhor souberem o que precisam, melhor é a qualidade de vida “fiel à essência” e fazer as coisas que lhe são mais importantes.”
COMO FUNCIONA O CEREBRO DE UM/A INTROVERTIDO/A?
Os neurocientistas já provaram que os introvertidos apresentam um nível de actividade cerebral com maior actividade elétrica. Este factor aplica-se sempre. E, não apenas, ao enfrentar desafios mentais invulgares. Daí uma maior necessidade de descanso.
Este nível energético mais elevado pode ser visto principalmente no córtex frontral. Área do cérebro, onde os acontecimentos internos são processados. É esta a parte do cérebro que lida com a aprendizagem, com a tomada de decisões, com a memória e com a resolução de problemas. Por isso, os introvertidos usam mais energia para processar as impressões e, portanto, “esvaziam as baterias” mais depressa do que os extrovertidos. É por isso que é particularmente importante para eles pouparem os seus recursos internos.
O cérebro dos introvertidos também absorve os estímulos à volta com mais intensidade do que o cérebro das pessoas extrovertidos. Os introvertidos, reagem com mais sensibilidade aos estímulos do mundo que os rodeia.
Apesar de necessitarem de mais descanso, as pessoas introvertidas muitas vezes não têm a mínima noção das vantagens desta caraterística. Vêm a introversão como algo negativo e, tendem a ser especificamente críticos consigo mesmos. Com bastante frequência têm de fazer um esforço consciente para descobrir que s virtudes apresentam. E, muitas vezes esforçam-se para serem mais extrovertidos em contexto social.
Se, por um lado é bom quando os introvertidos se avaliam com rigor e estabelecem padrões para o que querem ser, fazer e alcançar. Por outro lado, tratar-se a si mesmo de forma demasiado critica pode reduzir a autoestima e no pior cenário, a autocritica pode funcionar como autossabotagem.
De seguida apresento dez características que a maior parte dos introvertidos (embora alguns não apresentam todas)apresenta, que se trabalhadas corretamente, são altamente vantajosas em diferentes contextos da vida.
Cautela: os introvertidos agem com cautela, observam com atenção o que os rodeia, pensam antes de falarem, são comedidos, poupados a transmitir informações sobre si e tratam os outros com compreensão, tato e respeito. E não assumem posições inflexíveis.
Substância: os introvertidos são pessoas que mergulham nas profundezas da sua própria experiência, enfatizam o essencial, transmitem assuntos que são significantes, profundos e de alta qualidade. Têm sobretudo conversas sérias.
Concentração: são capazes de se concentrar, canalizando a energia com precisão para uma atividade interna ou externa. Persistem intensamente e firmemente nas coisas mantendo-se sempre em alerta.
Ouvir: esta é provavelmente um dos talentos mais subvalorizados nas relações humanas. Os introvertidos são melhores a ouvir do que a maioria das pessoas. Eles interiorizam a informação como observadores natos. Processam as informações transmitidas e avaliam-nas no seu pensamento. Sabem o que é importante para a outra pessoa, que informação é importante, como tudo encaixa.
Calma: são pessoas calmas. Esta calma tem duas vertentes: A calma exterior (ausência de estímulos) quando necessitam de trabalhar intensamente ou de recarregar. E a calma interior: que é um estado mental e a forma de obter clareza. É um estado capaz de gerar alterações mensuráveis no cérebro.
Pensamento analítico: o fluxo constante dos processos interiores coloca os introvertidos a uma maior distancia do mundo exterior. Têm uma mente intensa. Estão sempre a filtrar, a processar e a refletir com mais tempo e mais cuidado.
Independência: são capazes de estar muito tempo sozinhos e sentem-se bem com a sua própria companhia. São pessoas autossuficientes. Regem-se interiormente pelos seus próprios princípios, afastando-se das opiniões dos outros.
Tenacidade: são capazes de perseguir as coisas que querem com paciência e consistência por grandes períodos, de modo a alcançar um objectivo.
Escrever (em vez de falar): são pessoas que gostam muito de escrever. Por isso, procuram comunicar preferencialmente, através da escrita. É mais fácil para eles expressarem o que pensam e sentem de forma mais complexa.
Empatia: são pessoas extremamente empáticas. Capazes de se colocarem no lugar do outro. São pessoas amáveis e que evitam ao máximo possível o conflito. São pessoas altamente aptos para o compromisso e comunicam de forma diplomática.
Em suma, apesar de muitas vezes nos transmitirem que o mais impetuoso é vencedor e que quem grita mais alto consegue o que quer. Verificamos cada vez mais uma mudança cultural, que acolhe e respeita a todos. E essencialmente, nos leva a uma abordagem mais contida. Dando mais espaço para os introvertidos. Este livro, explora e, muito bem as caraterísticas fortes destas pessoas. E, ao mesmo tempo, ajuda os extrovertidos a compreender melhor os introvertidos. Afinal, onde quer que nos encontremos acabamos por nos cruzar com todo o tipo de pessoas. Eu não sei quanto a vocês. Quanto a mim, gosto muito de me cruzar com os mais quietos e silenciosos.
Lista de alguns introvertidos:
- WOODY ALLEN, realizador de cinema, autor, actor e músico, EUA.
- MARIE CURIE, química e física, Premio Nobel da Física e da química, Polónia.
- ALBERT EINSTEIN, físico, Prémio Nobel da Física, Alemanha.
- BILL GATES, fundador da Microsoft, EUA.
- MARK ZUCKERBERG, cientista de computadores, fundador do Facebook, EUA.
- ANGELA MERKEL, ex-chanceler alemã, Alemanha.
- AUDREY HEPBURN, uma das maiores actrizes de todos os tempos de Hollywood, Inglaterra.
- BARACK OBAMA, ex-presidente norte-americano, EUA.
Nota: este artigo foi escrito de acordo com o antigo acordo ortográfico.