O mês de Setembro é marcado pelo regresso às aulas. Se antes o quadro preto de ardósia era o mediador entre o professor e o aluno, agora os estudantes têm à sua disposição uma panóplia de tecnologias interactivas.
“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”, dizia o poeta, e a sala de aula não poderia ficar incólume a esta máxima, visto que é o espaço de aprendizagem por excelência.
Num mundo cada vez mais virado para a inovação não faz sentido que as tecnologias fiquem à porta da sala de aula, até porque os dispositivos tecnológicos estão enraizados no quotidiano de (praticamente) todos os alunos. Antigamente a sala de aula era configurada pelos materiais escolares habituais como o estojo, as cartolinas, os manuais, os lápis e as canetas mas ao longo dos últimos anos, tem-se verificado um aumento de materiais interactivos nestas salas.
A introdução das tecnologias de informação no ensino é uma questão vista com muita polémica e sem uma conclusão à vista. Se por um lado estas ditas tecnologias podem facilitar a aprendizagem, por outro lado, há quem defenda que o aluno fica mais distraído e como consequência aprende menos.
Realmente, há estudos que comparam a leitura feita no ecrã e a leitura feita em papel concluindo-se que a segunda é mais eficaz na compreensão do que a primeira. Manusear um livro é diferente de fazer “scroll”. Na leitura em papel, o leitor faz um mapa mental do que lê, ao passo que torna-se mais difícil a memorização do lido no digital, pois a mente humana necessita de traçar imagens para assemelhar a informação.
No entanto, as novas tecnologias podem ser uma boa resposta para as crianças com necessidades educativas especiais. Sendo os dispositivos electrónicos de uso intuitivo, são uma boa ferramenta para melhorar a relação entre professor e aluno e consequentemente, interiorizar melhor a matéria. Porém, o que se verifica é que, no auge desta crise que atravessámos a maior parte das escolas não tem poder económico para estar apetrechada com as tecnologias de informação essenciais ao ensino deste tipo de aluno.
Para além das questões económicas que o uso da tecnologia levanta, para os professores a introdução destes dispositivos é sinal de mais trabalho, visto que têm de ter mais formação para saberem usar de forma correcta estas inovações.
O mundo tem mudado muito depressa nos últimos anos e não é fácil prever os efeitos destas transformações nas próximas gerações. O uso da tecnologia tem aspectos positivos e negativos. Se antes as pessoas tinham um acesso restrito à informação, agora estão ‘acorrentadas’ a ela. É difícil desligar-se da rede, os estímulos do exterior não dão tréguas. Até para as crianças passou a ser normal “brincar” com um ecrã, ou seja, a realidade delas está a ser construída ‘à distância de um clique’.
É preciso adaptar o ensino às novas realidades que vão aparecendo e nesse sentido, é de salutar a introdução de tecnologia nas salas de aula, até porque podem ser utilizadas de forma a motivar os alunos, tornando as aulas mais lúdicas e interactivas. No entanto, não podemos educar uma criança apenas para o mundo virtual, descuidado o mundo real. Assim, para que a tecnologia possa ser uma ferramenta para ajudar no acesso e tratamento da informação, é preciso que os alunos aprendam a lidar com elas, seja na escola, seja em casa, recorrendo a regras por parte dos educadores.
Embora o bom uso das tecnologias possa trazer inúmeros benefícios, não podemos deixar de incutir nas crianças e nos jovens o pensamento crítico e a criatividade – duas características que parecem ficar perdidas neste mundo tecnológico tão uniformizado.