Todos necessitamos de afecto e sobre isso não existe qualquer réstia de dúvida.
Dizer que essa coisa de demonstração permamente de afectos é algo típico de gente carente e sem amor próprio, é apenas mais uma característica desta nova sociedade individualista e fria. Não abona nada em prol de uma mentalidade mais empática e tolerante que deveríamos possuir.
Porém, quase todas as espécies do reino animal nos demonstram a necessidade de afecto e proximidade ao outro, mesmo em relações interespécies e já é comum nas redes sociais a partilha de vídeos que comprovam isso. Nós, o Ser dito mais inteligente é que parece não entender a dimensão dessa necessidade primária.
A verdade é que o ser humano é um ser social que, naturalmente, nasce para viver em grupos e que constrói toda a sua personalidade influenciado pelo género de afectos de que é alvo.
A auto-estima de cada um também depende da relação que tem com o(s) outro(s). Não é linear, mas existe uma grande probabilidade de todos aqueles que são ostracizados de algum modo pelos seus pares, em algum momento da vida, desenvolvam fraca auto-estima ou problemas de socialização.
Os afectos em criança ajudam a desenvolver não só a dita auto-estima/amor próprio como também a independência e autoconfiança em todo o género de relações em idade adulta.
Claro que a afectividade depende de muita coisa, mas sobretudo da maneira como nos damos aos outros.
Tenho ouvido muito boa gente dizer que não podemos amar os outros se não nos amarmos a nós próprios.
Claro que não posso concordar com isso. O amor próprio não é requisito para saber amar o outro, apenas é, talvez, um ingrediente importante para que nos “consigam amar” da maneira que merecemos.
Nada disto passa de uma opinião sobre a qual existem pontos de vista diferentes, de acordo com as mentalidades e com a cultura em que estamos inseridos.
Se nalgumas culturas “o outro” é a parte mais importante, na nossa tem ficado cada vez mais claro que vai deixar de ser.
Leio amiúde que nos devemos afastar de pessoas tóxicas para podermos ser felizes.
Só não nos explicam de que maneira é que tal egoísmo pode dar felicidade a alguém.
Ninguém é tóxico por opção. As pessoas ditas tóxicas são-no, porque também elas têm problemas, às vezes problemas de falta de afecto, de amor, de compreensão ou problemas que elas próprias desconhecem. Será solução afastá-las como se fossem leprosos (Se é que afastar alguém com lepra não é o mesmo)? Ou, se analisarmos bem as coisas, não será melhor ser afectuoso(a) com essas pessoas e tentar entender essa toxicidade como uma “doença de afectuosidade?