Renaud Camus propagou a teoria da substituição populacional, que ele chamou de “Grand Replacement”, que imagino que seja francês para “peles morenas me provocam calafrios”.
Desde 1996, ele mostrou-se muito preocupado com algo que observara do alto do seu castelo. Sim, ele vive num castelo. É a única pessoa que, quando diz que quer claras em castelo, refere-se às empregadas de limpeza. Nada grita mais homem do povo que realmente entende a sociedade do que viver numa fortaleza de pedra.
Contudo, o que é então esta teoria? Essencialmente a teoria é que pessoas brancas já não se reproduzem muito com outras pessoas brancas e como tal estão a ser substituídos no que chamam um genocídio. Assim, substituição populacional é quando pessoas brancas dizem a outras pessoas brancas que existem muitas pessoas brancas que querem continuar a ser muitas pessoas brancas e como tal, pessoas brancas estão em extinção na cabeça de certas pessoas brancas, porque aparentemente melanina faz dói-dói.
O bravo guerreiro Renaud percebe de minorias tendo em conta que perdeu a herança dos pais quando admitiu ser homossexual. Felizmente os fãs da sua teoria aprovam bastante as suas escolhas.
Percebo que da perspetiva deles, se o problema é pouca procriação, o homem não ajuda muito à causa. Ele não é o pai do racismo moderno, é no máximo o daddy. Um racista-mór que pode muito bem chamar a outro racista mor.
Deve ser muito confuso para neonazis, querer torcer pela teoria de ódio de alguém que odeiam.
A teoria marca a primeira vez na história em que alguém acredita que um genocídio é feito com genitais. Afinal, quem é nunca viu a conversa:
– Vou acabar com a tua raça!
– Como?
– Fazendo amor.
Provavelmente quem acredita na tese e diz coisas como “a raça branca está a desaparecer” nunca parou para pensar que a melhor forma de combater isso seria ter mais relações, até porque imagino que seja difícil conseguir ao dizerem coisas como “a raça branca está a desaparecer”.
Estes jovens parecem pensar que as mulheres lhes devem relações sexuais, como se fosse um privilégio ao qual têm direito. Descartes dizia “penso logo existo”, estes dizem “pénis, logo exijo”; e é uma boa comparação tendo em conta que Descartes foi virgem até aos 40 anos.
1 em cada 3 estadunidenses acredita na grande substituição. É exatamente a mesma percentagem de estadunidenses com privação de sono. Portanto não é muito errado quando se ouve um americano falar disto uma pessoa simplesmente dizer: vai dormir que o teu mal é sono.
No entanto, como é que isto se reflete na realidade portuguesa?
De acordo com o INE, 60% dos portugueses considera-se branco e os outros 40% têm olhos na cara.
Segundo a propaganda, muita gente diz que imigrantes trazem crimes, violações, violência… Será mesmo? Desde 2014, o número de imigrantes quase duplicou e a criminalidade não seguiu esta tendência, sendo que a criminalidade grave até é menor.
A percentagem de reclusos estrangeiros também diminuiu na última década, mas claro que o grupo da teoria da substituição se reclusa a aceitar pegando muito numa ideia distorcida de patriotismo, como se o país fosse refletido na pele. A única forma da pele refletir o país de origem é se a pessoa tatuar um mapa.
Toda essa teoria da grande substituição não passa de racismo com uma tentativa fraca de intelectualização. Não é sequer algo novo, já o senhor do bigodinho da mão em pé refletia coisas semelhantes ainda antes de se inventarem as francesinhas.
Muita gente adora viver entre as brumas de memória como se o povo português tivesse amnésia, como se a nação valente não soubesse a sua própria história.
Portugal é uma República baseada na dignidade da pessoa humana e na vontade popular e empenhada na construção de uma sociedade livre, justa e solidária. Obviamente que essas pessoas não concordam com isto, afinal de contas, para isso teriam de ter tido a pachorra de ler a primeira linha da constituição portuguesa.
Nota: este artigo foi escrito seguindo as regras do Novo Acordo Ortográfico