A loja era simpática e acolhedora com tamanho suficiente para receber todos aqueles que necessitavam de ajuda. Ao balcão, uma senhora redondinha e sorridente, perguntava sempre se podia ajudar. Os seus sábios conselhos eram bebidos avidamente por aqueles que não percebiam nem de agulha e muito menos da arte de coser. Daquelas mãos de fada saíam peças únicas e úteis que encaixavam na perfeição àqueles que lhe pediam auxílio.
Os armários estavam repletos de objectos interessante e mágicos: fechos e fechinhos, de todas as cores e tamanhos, alfinetes simples e de ama, coloridos e lisos, colchetes, bandas de felcro, fitas de nastro e tantas outras curiosidades com nomes engraçados e difíceis de pronunciar. Mas havia um móvel, com vidro na parte de cima, que era o mais interessante e despertava a maior curiosidade. Eram os botões. Havia de muitos tamanhos, feitios, cores e materiais. Alguns deles seriam somente para decorar, outros para encaixar numa casa e, outros ainda, para fechar uma lacuna numa peça de roupa.
Era local de permanência de donas de casa e de reformados com tempo de sobra. Elas colocando as novidades em dia, eles matando aquele enorme bicho que é o acumular de horas sem ter nada para fazer. Tempos em que ainda não se pensava em distracções ou auxílio a quem necessita. A senhora do balcão a todos acolhia, de modo equivalente, distribuindo sugestões para um lado e sorrisos para outro. Mas ela tinha um segredo que acabou por ser desvendado.
Um dia, quando o estabelecimento estava à pinha, entra um rapaz esbaforido e cumprimenta-a. Bom dia, minha senhora, como está? Ela, como de costume sorriu e fez a pergunta habitual. Em que posso ajudar? Olhe, desculpe. Podia dizer-me se encontrou uns óculos? Uns óculos? Sim. Ontem à noite fui andar no Comboio da Selva e perdi os óculos. Não jovem, não vi nada. Já varri a Selva toda e não encontrei nada. Deve ter perdido noutro local. Talvez fosse no Comboio Fantasma. Obrigado e desculpe.
E foi assim que se ficou a saber que aquela senhora amorosa, além da retrosaria, local de paragem obrigatória para quase todos do bairro, ainda tinha uma outra ocupação, que era um divertimento, na Feira Popular. Tinha o nome de Comboio da Selva e entrava-se por um enorme gorila, de ar assustador, que contrastava com o ar doce e pacífico da sua amorosa proprietária.