A parentalidade não é fácil

Ser mãe, ser pai, nos dias de hoje, é apenas uma coisa no meio de tantas outras. Já não é uma inevitabilidade, nem sequer facto de realização pessoal, como era antes. Na atualidade há um sem fim de hipóteses para a nossa vida, de escolhas, que a parentalidade fica muitas vezes preterida.

As exigências do mundo moderno são outras. Felizmente não gastamos tempo em pensar como por comida na mesa, mas sim em que alimento colocar na mesa com tanta comida processada disponível, e quando as crianças não têm a maturidade para a evitar. Claro, eles sabem o que é “comida saudável”, mas são menos incapazes de resistir à tentação (menos que os adultos que também têm essa incapacidade). É tão mais fácil ceder do que passar duas horas com a barriga no fogão a cozinhar um prato que depois eles recusam comer. Antes as crianças não recusavam – tomara eles que houvesse comida.

Antes também não havia preocupações com os estudo, porque as crianças nem iam à escola. Quem perdia tempo a levar e trazer crianças, a preparar lanches, a ir a reuniões de pais, a acompanhar os trabalhos de casa, a promover a leitura? As crianças andavam por ali, as mães também costumavam andar por ali, todo o dia atarefadas com os afazeres de casa, as crianças meio-despidas na rua, com o ranho a correr para o lábio superior, a magoarem-se, muitas vezes seriamente, mas nada disso importava. Era a vida. A vida hoje é tão mais fácil, as crianças passam o dia na escola, as mães no trabalho, e quando se regressa a casa são poucas as horas para lhes dar a atenção devida e orientar tarefas de casa.

Nada é mais fácil hoje. Nem antes. Ninguém quer voltar atrás. Ninguém deseja filhos com fome e frio, goteiras em casa. A indiferença pelo destino das crianças talvez fosse uma defesa para o sofrimento.

Hoje, fala-se em tempo de qualidade, um conceito que duvido que as crianças tenham. As crianças precisam de muitos abraços. De atenção simples. Para eles é igual fazer um piquenique ou viajar para o estrangeiro. Não é difícil fazê-los felizes. Às vezes são os adultos que complicam: porque não foi ali, porque não tem aquilo. A roupa de marca também se estraga e também se enche de nódoas.

Fala-se nos pais helicóptero, das mães galinhas, das crianças reis em casa. Talvez sejam pessoas perdidas, desesperadas na missão de dar o que de melhor podem aos filhos. Antes tinha-se sete filhos, hoje tem-se um. Quem não quer fazer o melhor possível? Sabemos que há quem não queira, manchas na sociedade contemporânea, as Jéssicas, as Valentinas, as Joanas, nomes que não abandonam a nossa memória.

Fala-se na parentalidade positiva. Os arautos dos velhos do Restelo vêm logo com as falácias de que não morreram apesar de… Ainda de bem! Ninguém está livre do erro, mas podemos corrigi-lo. A parentalidade positiva pode ajudar-nos, ser um guia, nos complexos dias de hoje, toda a exigência das nossas vidas, no nosso sentimento de querermos fazer melhor. O apego, pedir desculpa a um filho, dar-lhes regras, dizer-lhes não. Nada disto faz de nós falhados. Não é fácil, porque afinal eles não são brinquedos, são pessoas. Os nosso filhos são pessoas.

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Comments 2
  1. Ser pai, mãe e filho, é uma tríade complexa.
    Hoje sabe-se muito mais sobre as consequências que as “quedas” físcas ou emocionais na infância podem provocar no adulto,
    Mais informação, leva a um sentimento de maior responsabilidade e culpa associada, para além disso a falta de “aldeias para criar as crianças” também não torna mais fácil esse papel.

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