Uma questão de perspectiva

Tudo na vida tem dois lados, dois pontos de vista, duas perspectivas. A velha estória do copo meio vazio ou meio cheio.

Duas análises feitas pela mesma pessoa dependo do lado em que esta se encontra, serão, definitivamente, análises diferentes.

Se desenharmos o número seis virado para nós, a pessoa que estiver do lado oposto vai ver o número nove, e vice-versa.

Deveríamos lembrar-nos disto sempre que está em discussão um tema, e uns defendem um ponto de vista, e outros outro.

Afinal, quem tem razão?

Invertem-se as posições, alteram-se as opiniões.

Normalmente, as análises são feitas consoante nos é mais conveniente, por exemplo, na rua, se estivermos na posição de peões, gostamos que os carros parem nas passadeiras para nos deixar passar. Por outro lado, no papel de condutores, é muito aborrecido ter que parar nas passadeiras para deixar os peões atravessarem.

Há uma panóplia de situações, muitas delas bastante delicadas, nas quais as opiniões mudam radicalmente do acordo com o lado onde nos encontramos, senão vejamos:

Quem está à espera de um órgão para transplante, está a rezar para que alguém morra para o poder doar, já a família de quem morre fica a lamentar a situação;

Nos países onde há a pena de morte, quem é sentenciado a morrer é contra, já quem busca a justiça será a favor (principalmente se a pessoa objecto da sentença também tiver tirado a vida a alguém);

E quem faz as leis, não serão uns meros seres humanos a decretar sobre a vida (ou morte) de outros seres humanos? E baseados em quê? Terão eles em conta todas as perspectivas?

Um empregado só pensa nos seus direitos e tende a esquecer os seus deveres. Por seu turno, quando a situação se inverte e o empregado passa a empregador, já verá com outros olhos os deveres em detrimento dos direitos;

E quem comete suicídio? Uns defendem que essas pessoas são extremamente corajosas para cometer tal acto atroz, outros dizem que é pura covardia morrer para não enfrentar os problemas;

E quem fala em suicídio fala em eutanásia, uma pessoa prefere morrer porque está a sofrer e muitas vezes a dar trabalho e despesa à família, já por seu turno algumas famílias preferem ter a pessoa a seu lado, mesmo estando num estado de sofrimento e de incapacidade.

Nem a política escapa! Por norma, quem está na oposição critica medidas tomadas pelo governo, que, a dada altura, já teriam sido tomadas ou sugeridas por esses mesmo partidos aquando da sua vez no governo.

São comportamentos cíclicos e é difícil haver imparcialidade.

Em suma, se tivéssemos a capacidade de nos colocarmos no lugar do outro mais frequentemente e tentássemos ver as coisas pelo seu prisma, pela sua perspectiva, muitos aborrecimentos seriam, indubitavelmente, evitados e muitos problemas seriam resolvidos.

Nota: este artigo foi escrito seguindo as regras do antigo acordo ortográfico
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Sara Tavares

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