“A Internet deu voz ao público”: O jornalista podes ser tu!

A Web abriu o mundo fechado de editores profissionais e repórteres para qualquer pessoa com um teclado e uma conexão à Internet. Esta apresenta-se “como um poderoso motor de possível reversão das estruturas de poder nos sistemas mediáticos, com os cidadãos a assumirem um papel mais interventivo, de forma mais simples e rápida”, afirma a professora de Jornalismo da Universidade Federal Fluminense, Sylvia Moretzsohn.

As facilidades proporcionadas pelas novas tecnologias da comunicação aproximam-nos da profecia do fim do jornalismo tal como o conhecemos. Vivemos, hoje, num mundo em que qualquer pessoa com telemóvel e câmara se torna num repórter. O que será o jornalismo perante este cenário?

Na mudança de milénio, com o site coreano OhMyNews vemos nascer aquilo que conhecemos como jornalismo cidadão, ou jornalismo participativo. Hoje, a colaboração do leitor na produção de notícias nos meios digitais tornou-se numa tendência, sendo inúmeros os projectos que dão voz ao cidadão jornalista. As comunidades globais, como GOOD e Medium, são o local de encontro das questões que preocupam a sociedade. Estas oferecem ferramentas de crescimento para idealistas pragmáticos de forma criativa e colaborativa, são locais na Internet onde as pessoas partilham ideias e histórias. Porém, os cidadãos jornalistas já chegam, inclusive, ao papel, sendo parte de revistas como The Printed Blog, uma revista norte-americana de tiragem mensal que é composta inteiramente de blogs e outros conteúdos online.

“Ao longo dos anos, o jornalismo apropriou-se das inovações tecnológicas para se aperfeiçoar e propagar o conteúdo produzido. O ambiente online que já era considerado interactivo tornou-se ainda mais dinâmico e a distinção entre informação e opinião fica ainda mais difícil, uma vez que hoje temos a identificação dos chamados prosumers (indivíduos produtores e consumidores de informação) ”, explicam os membros do Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora, Caroline Farinazzo Oliveira e José Honório Glanzmann. Estes consumidores e produtores de informação que partilham conteúdo acabam, algumas vezes, por apresentar a sua visão dos acontecimentos em vez de narrarem os acontecimentos objectivamente. Como explica Dan Gilmor, “vivemos numa era de excesso de informação, em que uma grande parte daquilo que nos é proposto ver, ouvir e ler tem erros, muitas vezes engana e pode até ser perigoso”. É, ainda, nesta era de excesso de informação que surge, na esfera mediática, o cidadão jora internet deu voz ao publico (2)nalista, deixando o jornalista de ser o único mediador da informação. Os “assuntos que nunca teriam notoriedade, ou espaço nos media tradicionais, revitalizam a vida pública, porque favorecem o debate público e contribuem para a comunidade se conhecer e agir em prol de uma efectiva cidadania”, afirma a mestre em Comunicação Social, Cheila Marques.

Segundo o colaborador da Brass Tacks Design, Alan Jacobson, a Internet fornece-nos “three killer apps in one [três aplicações fantásticas numa só]”, já que permite, em simultâneo, a Publicação, recorrendo ao HTML, ao Myspace, ou a Blogs, Pesquisa nos bancos de dados e Comunicação (e-mail). “A Internet mudou tudo. Se os jornais querem jogar – e ganhar – então têm que seguir novas regras”, diz Alan Jacobson. A Newsweek e o Washington Post são bons exemplos daqueles que seguem as novas regras. Depois de 80 anos, a revista semanal Newsweek terminou a sua edição impressa e está disponível apenas num formato digital. O novo formato é acedido através de tablets, e-books e outros dispositivos móveis e é sustentado por assinaturas. Já o jornal Washington Post tem vindo a sofrer com quedas na circulação e na receita publicitária, o que resultou na compra do jornal pelo fundador da Amazon, Jeff Bezos. Contudo, jornalistas, como John Hughes, ex-editor do Christian Science Monitor, gostam de dizer que “haverá sempre um jornal, porque sempre houve um jornal”. Por essa razão, este jornalista iguala a Internet a outros avanços tecnológicos na comunicação, os quais não prejudicaram este negócio. Contudo, até que ponto terá ele razão? O jornalismo como um negócio não estará a passar dificuldades por causa da Internet?

“A Internet não é evolutiva, como o telégrafo, telefone, rádio ou televisão – é revolucionária, porque fornece uma tecnologia de publicação poderosa. Não é apenas uma nova forma de publicar – é a democratização da publicação. A liberdade de imprensa não pertence apenas a alguns”, explica Alan Jacobson. Perante a chamada democratização da publicação, “o jornalismo terá de passar por uma mudança que o permita sobreviver ao novo paradigma da profissão. Ter acesso a tantos conteúdos e ferramentas de participação é de facto algo muito positivo, mas também é concludente que a informação na era da Web 2.0 está banalizada. Existe sim uma supervalorização do conteúdo produzido pelos utilizadores. O grande desafio é reconhecer o que realmente é conteúdo relevante”, referem Caroline Farinazzo Oliveira e José Honório Glanzmann. O reconhecimento da parcialidade das fontes, bem como dos seus interesses nem sempre é fácil para os consumidores e, por isso, torna-se essencial a procura da verdade. O cruzamento de informações de diferentes fontes e o reconhecimento da fiabilidade das mesmas é preciso num mundo que muitas vezes nos engana. Para Nilson Lage, há um mau hábito de julgar as fontes oficiais como as mais confiáveis, afirmando que a mentira ocupa lugar estratégico nas intervenções de personalidades, ou instituições vinculadas aos poderes estabelecidos. O que impõe a questão: Será que as fontes não oficiais são confiáveis?internet deu voz ao publico

Quando a World Wide Web surgiu, na última década do século XX, o jornalismo encontrou-se com uma revolução e, como afirma Dan Gilmor, a Internet tornou-se o primeiro meio de comunicação que deu voz ao público. Hoje, podes ser tu a assumir o papel de jornalista! No entanto, o professor doutorado em Jornalismo, Gerson Luiz Martins, refere que “uma coisa é transmitir a informação, ou transmitir informações, outra coisa é produzir informação. O jornalista profissional, qualificado com um curso superior de Jornalismo produz informação. Este profissional pesquisa dados, compara estatísticas, analisa repercussões, avalia factos, capta acontecimentos e edita tudo isso para o leitor”.

Atualizado a 12 de Junho de 2014
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Comments 2
  1. Olá
    Gostei do seu artigo e da linha de desenvolvimento.
    No entanto tenho de fazer uma pequena adenda.
    Quando se refere a Cheila Marques (eu) como mestranda na verdade não está correcto. Eu terminei o meu mestrado em 2010. 🙂

    Se necessitar de mais alguma informação ou estiver interessada em trocar ideias força :).

    Com os meus melhores cumprimentos
    Cheila

    1. Boa tarde.
      Em primeiro lugar, obrigada. O erro já foi corrigido 😉

      Num futuro, caso precise de mais alguma informação não hesitarei em contactar 😀
      Obrigada pela disponibilidade.

      Os melhores cumprimentos,
      Marisa Mourão

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