Por vezes, é preciso ignorar o que sentimos.
É preciso sair de cena em silêncio, deixando o filme a meio. É necessário calar um pouco o coração e encontrar coragem para admitir que o espectáculo tem que ser cancelado, por razões de força maior.
Sabemos que vai doer.
Sabemos que iremos ouvir o grito do desejo que nos vai ensurdecer a alma. Estamos conscientes de que nos sentiremos despidos por não sabermos onde andam as mãos que sempre nos vestiram. Sentiremos frio e chamaremos pelo nome de quem vive dentro do nosso coração.
Talvez o erro seja mesmo esse. Assumimos que existiria um para sempre nas nossas vidas e de repente esse fio brilhante com que tricotávamos a nossa história rebenta e não temos uma solução para resolver aquele incidente. Criámos tantas expectativas nesse amor que desaprendemos de viver e quando tudo termina não sabemos para que lado seguir.
Quando o final nos agarra não encontramos razões para sorrir e sem sorriso o dia perde todo o seu brilho. Quando o inesperado acontece é preciso ter força para puxar a cortina e agradecer à plateia. É tempo de deixar de ensaiar aquela peça de teatro em que não éramos a personagem principal.
Tudo depende de nós e não desse amor que nos roubou a voz e nos fez voltar a viver no silêncio de um sonho. Seremos nós a ter de dosear a intensidade dessa dor que inevitavelmente irá chegar. Depende de nós encontrar força para curar essa ferida que não nos vai matar.
A dor não mata, a dor ensina!
Por isso, sair de cena é a única escolha possível. Deixar aquele palco antes que todas as luzes se apaguem e fiquemos ali na escuridão a tentar encontrar o caminho de volta para o nosso mundo real.
Vai ser difícil, mas a melhor escolha é tirar a voz ao coração. Explicar-lhe que foi a última actuação para aquele sentimento que já não tem ninguém na plateia para o aplaudir. É preciso faze-lo entender que nada é eterno e que um dia tudo tem que terminar. E depois, calmamente é preciso esperar que a sabedoria do tempo resolva tudo o resto.
O tempo é um aliado da sábia vida. É sempre ele que nos ajuda a sarar as feridas que teimam em gritar por quem já não faz parte do nosso filme.
Por vezes, é preciso contrariar o silêncio e gritar bem alto que o passado já não dói e que as recordações são páginas do diário da vida que nunca poderemos rasgar, mas que nos habituaremos a desfolhar quando a saudade nos vier visitar.
Quando aprendermos a ignorar o que ainda sentimos para vivermos o que o destino nos reserva saberemos como continuar a sorrir, por mais que a tristeza queira mostrar que ainda continua a dançar nos nossos dias.