A diferença da Palavra

A palavra literatura deriva do latim littera, que significa letra. No fundo, consiste em escrever e ler de forma correta. Esta littera pode ser simplesmente a lista de compras para o próximo domingo, ou a Ilíada de Homero.

Alegadamente, as pinturas rupestres mais antigas do mundo (numas cavernas nas montanhas na província de Kalimantan, na parte indonésia da ilha de Bornéu) têm entre 40 a 50 mil anos. O que implica que a necessidade do ser humano de registar os seus feitos é milenar. Contudo, uma mera imagem, apesar de poder valer bem mais de mil palavras, não é o suficiente. Por isso, ao longo da história, fomos arranjando novas e melhores técnicas de gravarmos a nossa evolução.

Os primeiros indícios de escrita propriamente ditos vêm da antiga Mesopotâmia (hoje em dia conhecemos como a zona onde se encontra o Iraque, o Kuwait e a Síria) e são maioritariamente registos comerciais e políticos da época. E o resto é história, como se costuma dizer. História esta que nos trás importantes registos da arte e da ciência, bem como a possibilidade de aprender cada vez mais.

Por exemplo, se formos a um museu e lá estiver uma taça de barro, o que eu vejo é apenas uma velha taça de barro. Como é que isto me faz aprender alguma coisa? Se eu for à casa dos meus avós, também lá tenho taças de barro antigas. Eu, uma pessoa que nada tem a ver com Arqueologia, vou aprender lendo o que está escrito na nota explicativa. Os próprios arqueólogos conseguiram tirar as suas conclusões sobre a tal taça de barro, porque antes leram outros textos, escritos por profissionais mais antigos.

Ler e escrever, a par de algumas operações aritméticas, são das primeiras coisas que aprendemos assim que vamos para a escola. O que significa que com 7 anos de idade já podemos ter contacto com obras literárias. Lembro-me de ler e reler a saga Harry Potter e de ir acompanhando o crescimento do Harry como se de um colega se tratasse. Estes livros passam mensagens de camaradagem, coragem e lealdade a uma jovem criança. A literatura tem o poder de influenciar as mentes desta forma.

Quando estava na escola básica, talvez no 8º ou 9º ano, comecei a ler o Diário de Anne Frank. Digo comecei, porque não fui capaz de acabar. E acho que honestamente, hoje em dia, devia ser obrigatório, nem que fosse apenas algumas passagens, pois acredito que alguém que lê o que aquela menina escreveu naquelas páginas fica muito assustado/a com o poder que os partidos de extrema direita estão a começar a ter novamente.

A literatura é uma arte sem igual. Tem a capacidade de nos fazer mergulhar em universos completamente diferentes durante horas. Contudo, a escrita tem um poder ainda maior. De nos mostrar o que foi. De nos mostrar o que poderá ser, se não nos erguermos e lutarmos pelo bem comum. Desprezar o nosso passado, é desprezar o nosso futuro.

A palavra escrita é a forma mais fácil que temos hoje em dia de nos fazer “ouvir” (nada irónico). Porque qualquer um de nós escreve. Nem que seja no Facebook. Não é literatura no modo mais fundamentalista, no entanto, estamos a exercer o nosso direito à expressão. Alguns falam aos sete ventos, outros ficam por escrever.

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