“Estudar para quê?” é possivelmente das frases mais ouvidas. As justificações são sempre as mesmas, “ah porque o meu vizinho é licenciado e não arranja emprego”, ou “a minha prima é psicóloga e trabalha comigo nas limpezas”. Agora, eu pergunto: será que o vizinho e a prima são hoje as mesmas pessoas, se não tivessem ido para a universidade? Penso que não.
Sejamos pragmáticos. Mesmo em situações de deficit de emprego, como a que se vive hoje em Portugal, quem tem um canudo está quase, para não dizer sempre, à frente de quem tem menos formação. Seja para atendimento ao balcão, para acções de promoção, para call centers, ou para secretariado. Não importa. Mais escolaridade significa mais conhecimento, mais conhecimento significa outro discurso verbal e os empregadores sabem bem disso (ou deviam). Como certo dia li, “prefiro um país em que o taxista sabe falar inglês, porque é licenciado, do que um país sem gente licenciada empregada”.
O conhecimento nunca é demais. Está ali sempre na gaveta, guardado, pronto a ser utilizado. O João pode até nunca vir a ser publicitário, como sempre sonhou, mas um dia, quem sabe, abre um restaurante e alcança rapidamente o sucesso, tudo porque, ao contrário da concorrência, domina as técnicas de marketing. Já a Manuela, a menina que sempre disse que ia ser jornalista, até pode nunca vir a conseguir ser remunerada na área que escolheu, porém, isso não a impede de montar um jornal na sua aldeia gratuito, onde todos podem participar e partilhar uns com outros ideias e acontecimentos da terra.
Errado é pensar-se que uma licenciatura significa um bom emprego e mais altos salários. Não se iludam. Nas universidades tem-se acesso, somente, às ferramentas, depois somos cidadãos do mundo, como os outros. Prontos a arregaçar as mangas, a lutar pelos sonhos, a enfrentar dificuldades, mas sempre acompanhados por mais bagagem. Bagagem essa, que mais cedo, ou mais tarde, vai fazer toda a diferença, independentemente de se trabalhar dentro, ou fora da área.
Ter alguém ao nosso lado a trabalhar num café, com mais formação que nós, não significa que essa pessoa não tenha valor, que todos os anos que abdicou para estudar não tenham valido a pena. Se parar para observar, vai possivelmente ver uma pessoa comunicativa, proactiva, cheia de ideias. Serão esses jovens, os patrões de amanhã, de cafés, de restaurantes, de lojas e de fábricas. Está a imaginar como o país pode beneficiar com uma geração formada?
É preciso entender que o conhecimento faz mover o mundo. Que uma sociedade formada é uma melhor sociedade. Mais consciente do que a rodeia, mais preparada para enfrentar dificuldades e encontrar soluções. Menos acomodada e mais activa. Menos fechada no seu ninho e mais aberta a alcançar o mundo. O futuro passa por aí, por isso, não diga mais que “estudar não vale a pena”. Cada um de nós deve seguir o seu caminho. Se a licenciatura for a direcção escolhida, só tem que ser apoiada.