A desigualdade, qualquer que ela seja, existe desde sempre. Sempre houve uma organização das pessoas, das coisas. Sempre houve uma hierarquia. Nessa hierarquia, há uns que têm mais privilégios do que outros. Em qualquer que seja a sociedade, há sempre um desequilíbrio social que nos separa uns dos outros. Por muito que se tente mudar isso, creio que nunca viveremos num mundo onde haverá igualdade.
São anomalias sociais. Há vários tipos de desigualdade e, neste artigo, falarei essencialmente da desigualdade de género, que é sempre muito falada e discutida com opiniões bastante divergentes. No caso português, as mulheres continuam a receber, em alguns cargos, menos do que os homens. O jornal Expresso, há uns meses, publicou uma notícia com o título “Mulheres portuguesas trabalham em média 79 dias por ano sem serem remuneradas”. Hoje, as mulheres ganham em média menos 278 euros do que os homens. Os lugares de chefia continuam a ser maioritariamente masculinos. Se formos a ver a direção das empresas, certamente encontraremos muitos mais homens do que mulheres. Mesmo quando as mulheres chegam ao topo, têm tendência a receber menos do que os homens.
A gravidez continua a ser um obstáculo, pelo que muitas não progridem na carreira por essa razão ou, quando sabem que vão ter um filho, são despedidas. Aliás, há patrões à procura de trabalhadores apenas do sexo masculino, devido a este mesmo motivo. Segundo a Comissão Europeia, Portugal é considerado o país onde a diferença dos salários entre homens e mulheres mais aumentou entre 2011 e 2016. Outro exemplo é o prazer sexual e a tentativa de controlar a sexualidade da mulher. Lembro-me que, em Filosofia, falávamos muitas vezes dos direitos humanos e a mutilação genital feminina era, muitas vezes, tema de conversa. Infelizmente, é uma realidade, sobretudo, nos países africanos.
Pelo mundo, houve sempre muitas manifestações ao longo dos anos na defesa da igualdade. A desigualdade de género não se afirma apenas no que diz respeito ao mercado de trabalho, mas também no acesso à educação, por exemplo. Todos já ouvimos falar de Malala, uma ativista paquistanesa, que ganhou o prémio Nobel da Paz em 2014. Com uma vida atribulada, ficou conhecida principalmente pela defesa dos direitos das mulheres e do acesso à educação na sua região natal. Por ter defendido o direito das raparigas irem à escola, foi alvo de tentativa de homicídio. Malala lutou. Não é fácil mudar mentalidades, ainda para mais de quem sempre viveu numa realidade em que as mulheres vivem com pouquíssimos ou nenhuns direitos.
No entanto, sou da opinião que a desigualdade de género não diz respeito apenas às mulheres e, muitas vezes, é assim associada. Aqui aplica-se, por exemplo, o caso da violência doméstica. Estamos habituados a ver as notícias em que os homens agridem as mulheres, mas, na verdade, também existem casos em que são as mulheres a agredirem os homens. Não nos podemos esquecer disso.
Claro que falar em desigualdade depende de cada país, sociedade e respetiva cultura. Este tema, seja de que forma for, dá muito pano para mangas e muitos exemplos poderiam ser dados. Estamos no século XXI e, apesar de Portugal não ser dos países mais afetados, isto ainda é uma realidade. Ainda que não acredite que um dia viveremos em igualdade, acredito que estejamos a caminhar cada vez mais para perto disso, apesar de não conseguirmos alcançá-la totalmente. Se recuarmos, percebemos que a situação atual é melhor do que antes, mas ainda há um longo caminho a percorrer.