Não nos sentimos representados pelos nossos políticos. Esta parece ser uma verdade universal incontestada. Visto isto, há uma questão fundamental a fazer-se: o que é que se passa com a democracia?
Todos sabemos que a nossa democracia funciona mal. Outra verdade universal, esta também, em certa medida, incontestada. Porém, o seu mau funcionamento, pelo que ouço dos ‘politiqueiros’ com que me dou, não se deve somente aos políticos.
Reflitamos um pouco. O problema da representação não é só a falta de representação política. É a falta de prosperidade económica e social. Quando há prosperidade, ou melhor, dinheiro, o problema da representação raramente é posto em cima da mesa.
Mais, vivemos numa crise de ideias e valores e isso reflecte-se na dita classe política. Costumamos ouvir dizer que agora não há políticos como antigamente, como Francisco Sá Carneiro, Álvaro Cunhal, Mário Soares, ou Salgado Zenha. Ideológica e moralmente eram (e são) um exemplo. Nada comparado ao que há agora. Por sua vez, isto reflecte-se na representação política.
Actualmente, temos a visão da política como um jogo. A Assembleia (da República, diz-se) transformada num casino e os deputados em gamblers. Lá, jogam, defendendo os seus próprios interesses.
Temos um sistema político em falência. Promessas não cumpridas e verdadeiras mentiras eleitorais estão a ser o catalisador do aumento do descontentamento generalizado da população. Os partidos do poder estão sem soluções e agarrados a dogmas que funcionam como uma âncora que arrasta o país para o fundo. As alternativas que nos vendem os movimentos e partidos fora do arco da governação são, para muitos, irrealistas e, para outros, desejáveis, mas não exequíveis por estes movimentos.
Estamos anestesiados. Porquê? É verdade que somos um país de brandos costumes, do respeitinho e do certinho e direitinho. Contudo, também somos o país que matou um rei, que combateu uma guerra a milhares de quilómetros, durante 13 anos, e que fez uma revolução magnífica, exemplo para o resto do mundo.
O problema é que também somos um país em que os cidadãos não reclamam. Esporadicamente, vemos nas redes sociais reações mais violentas a certos comportamentos dos políticos, mas nas ruas, é raro. Somos todos uns activistas de sofá, à espera que nos caia do céu a utopia que tanto desejamos. Somos preguiçosos. E muito. Se o estado de coisas está mal, temos de fazer algo para o mudar.
Há uns dias, houve quem viesse a público defender que um dos grandes problemas de Portugal era a Constituição. Falo do Observador, claro está. Os portugueses não se sentem representados pela lei fundamental que têm, diz-nos o dito jornal.
Não querendo fazer quaisquer tipo de juízos de valor sobre este projecto de alteração constitucional, creio que é um passo em vão para uma discussão séria – um jornal, que deveria apresentar-se e ser imparcial, toma uma posição ideológica bastante vincada. Talvez seja esse o motivo, para já, para a marginalização mediática da proposta.
Contudo, o nosso país é mesmo assim: não se discute nada, pelo menos nada de importante. Reclama-se (e muito), mas só no sofá. Todavia, discutir com argumentos plausíveis assuntos importantes, é invulgar. Isto leva a que as decisões sejam tomadas do topo da hierarquia, sem a inclusão dos representados. Talvez seja por isso que há uma grande crise de representação.