Dizem que a adolescência é a melhor fase das nossas vidas. Há quem concorde e há quem discorde. Eu limito-me a dizer que a adolescência é a fase em que a nossa vida dá mais voltas, sem sequer sairmos do lugar – são voltas interiores, que acontecem dentro de nós e que, muitas vezes, mais ninguém vê.
A adolescência é a fase das borbulhas que teimam em aparecer nas piores alturas, dos mil e um cremes para as tratar; a fase dos primeiros amores e das primeiras descobertas; a fase das imensas disciplinas em áreas tão variadas que nem sabemos exactamente qual delas é a que queremos seguir; a fase das escolhas que podem mudar a direcção do nosso caminho; a fase das lágrimas de alegria e, tantas vezes, de frustração; a fase em que queremos, no fundo, saltar à fase seguinte: a fase adulta.
Não digo que os adolescentes não sejam felizes. Eu, na minha adolescência, tive momentos de felicidade, mas acredito que haja um misto de emoções, um turbilhão de sentimentos, com os quais não conseguimos lidar, exactamente por sermos adolescentes. Quando entramos no fim da adolescência, mesmo antes do início da idade adulta, a nossa capacidade de lidar com este turbilhão de emoções torna-se maior.
A vida passa a correr. Os dias atropelam-se e em cada canto há, sem sombra de dúvida, um grupo de adolescentes que anseiam chegar à idade adulta, procurando a estabilidade emocional que a adolescência não lhes proporciona. Vivemos sempre à espera do futuro, não é um erro ansiar por mais. No entanto, chegados à idade adulta, olhamos para trás e recordamos com saudade o momento em que as borbulhas na cara nos faziam chorar de vergonha, em que os primeiros amores nos partiam o coração e nós sorriamos porque nem doía assim tanto, em que as decisões que tomávamos podiam afectar o nosso futuro mas tínhamos tanto futuro pela frente.
Quando somos adultos, qualquer decisão que tomemos e que possa afectar o nosso futuro parece que o vai afetar já amanhã e não apenas daqui a alguns anos. As responsabilidades são acrescidas, o peso das consequências é mais notório e a nossa maturidade para lidar com as coisas tem de estar presente, caso contrário não conseguimos singrar no mundo dos adultos.
Porém, há uma coisa que distingue os adolescentes dos adultos ou jovens adultos: a capacidade de sonhar. Os adolescentes sonham sem pensarem nas consequências, sonham de forma pura, porque podem sonhar, porque enquanto não são adultos nada os pode impedir de sonhar. Os adultos, por sua vez, podem sonhar, mas a responsabilidade é tanta e a consciência da realidade é tão notória, que, por vezes, nos esquecemos de sonhar sem limites. E não é, realmente, o sonho que comanda a vida?