Neste filme apocalíptico em que vivemos desde do início do ano de 2020, passamos pela fase da infecção zombie em que se ficou em casa, de máscara, e em que só faltou ter que colocar tábuas nas janelas. Agora, sem dó nem piedade, passamos para a fase seguinte. Quase que me apetece dizer, the show must go on.
A inflação galopa, por via da quebra de umas quantas cadeias de produção, à boleia de uma procura pós-pandêmica que se combina, com muita ganância, de muitos dos bilionários, que continuam a navegar num mar, para eles, sem ondas. Nada abala os grandes iates, mas para quem vai no bote… Boa sorte!
Aquilo que mais me encanita, não a famigerada falta de visão, de um plano, mas antes, políticos sem a mínima vontade de fazer o que é justo. A decência, está fora de moda, o patriotismo, passou a ser um defeito de uns quantos nacionalistas patrióticos, que dele se apropriaram. O carácter e o carisma… Olho para todo o lado e só vejo servidão e servilismo. Pessoas de caras fechadas, de costas vergadas, e nem todos metaforicamente. É a realidade que me adentra pelos olhos. Às vezes, mesmo estando eles fechados.
Assim sendo, importamos indignações, discutindo as nossas migalhas e a vida a correr. O mundo endurece e lá vemos nós os preços subirem e os juros da dívida soberana também. Ameaçando mais uma vez, quem pouco mais tem para perder. Parece-me um ciclo infinito gerador das mesmas pré-condições. Geração após geração. Daqui, só podem medrar extremismos estéreis, que tentam resolver problemas complicados, com atribuição de culpas simples. Sugando de uma vez tudo o que resta.
Quero ser positivo. Acreditar que António Costa vai olhar para o povo e ver como já é pouco provável que a gente aguente mais. Eu sei que aguardar que a bomba não rebente no fim do pavio é uma ilusão, se o detonador estiver lá colocado. Enquanto o coração o deseja o cérebro grita como um alarme nuclear: “UTOPIA!! UTOPIA!!”. A minha alma fica cada vez mais inquieta.
A globalização não chegará a tempo de salvar boa parte das Marias e dos Manueis que cá vivem. Diferenciaria, no entanto, quem é feliz no seu meio e quem dele não consegue sair, ou seja, quem entende que está bem assim porque já experimentou o resto e quem entende que é bom assim porque nunca viu o mar de possibilidades que existem. A maioria deles nem sabe o que a globalização representa, é como caçar gambuzinos, à noite, no meio da selva com uma venda. Não dá.
Com toda a crise internacional, da guerra à fome, passado pela dívida, vai ser preciso um daqueles milagres que eu nunca vi, feito por homens com pés de barro e uma consciência de pau carunchoso. Mas temos que acreditar, eu serei um empreendedor da fé e acreditarei, até que a realidade me vença.