O dia 1 de Maio é, simbolicamente, o Dia do Trabalhador. A origem desta data relaciona-se com a primeira manifestação de trabalhadores nas ruas de Chicago, cerca de 500 mil, bem como com uma greve geral nos Estados Unidos, em 1886. Este dia causou um enorme impacto no resto do mundo. Passados 3 anos, o Congresso Operário Internacional convocou, em França, uma manifestação anual em que se pretendia homenagear as lutas sindicais de Chicago. O modelo vinha de fora da Europa e teve uma aceitação muito forte.
A primeira manifestação terminou de modo trágico, com 10 mortos, na sequência da intervenção policial. Os sindicatos eram vistos como focos de conflitos e não como grupos de defesa dos trabalhadores. A revolução Industrial tinha deixado marcas profundas e a exploração laboral tendia a ficar. No entanto estes eventos criaram o motor da mudança e deixaram instalado o bichinho da reivindicação.
Foram os factos históricos que, apesar de tudo e do desfasamento no tempo, transformaram este dia no Dia da Trabalhador. Uma singela homenagem aos lutadores de causas comuns, pela melhoria das condições de trabalho e por um horário que fosse respeitado. Trabalhavam sem paragens nem regalias. O descanso era algo de raro e visto como uma aberração. O trabalhador era quase um escravo do patrão, do burguês, que detinha os meios de produção e controlava a vida dos seus assalariados.
A Revolução Industrial modificou a sociedade completamente. A instalação das fábricas nas cidades, causou grandes desequilíbrios na estrutura existente nas cidades. Os campos sentiram a desertificação, causado pela êxodo rural. Todos procuravam uma vida mais fácil e partiam para a cidade. O desengano terminava aquando da tomada de consciência das dificuldades acrescidas que teriam de enfrentar.
A ausência de estruturas adequadas para a sobrevivência urbana provocou outro tipo de problemas que persistiram até aos nossos dias. As habitações, degradadas, não ofereciam condições para albergar as inúmeras famílias e a privacidade era algo de desconhecido, permitindo a promiscuidade e até mesmo o incesto. Por outro lado, a falta de esgotos era um promotor de doenças e de atitudes muito pouco recomendáveis.
Os índices de criminalidade aumentaram substancialmente e os mendigos e as prostitutas cresceram de modo quase exponencial. O número de clientes tinha-se multiplicado e, de parceria com os mendigos e ladrões, as estalagens e bares eram locais propícios a todo o tipo de actividades. Eram tempo de sobrevivência, resquícios feudais que se prolongavam.
Assim sendo o aparecimento das fábricas vai criar uma nova classe social, o operariado. Estas pessoas trabalhavam cerca de 16 horas, sem horários nem descansos. Todos eram aceites, homens, mulheres e crianças que desempenhando as mesmas tarefas, recebiam salários bem diferentes. Não havia protecção social e muito menos segurança. Estava criado o cerne da luta, ainda sem o saberem.
Neste contexto, as reivindicações faziam todo o sentido. Melhoria das condições de trabalho, horário estipulado e dia de descanso semanal obrigatório. Não seriam só estas as questões levantadas, mas eram as essenciais e resumiam-se ao que seria necessário para que o trabalho fosse desempenhado nas condições menos más. Em Portugal a legislação só existiu depois da 1ª República, em 1911.
O 1º de Maio de 1974 foi um dia extraordinário em vários sentidos. Estava um dia radioso e particularmente quente para o início de Maio. As pessoas estavam imbuídas do espírito recente do 25 de Abril e dispostas a mostrar a sua alegria e a disponibilidade para as mudanças urgentes. Tudo parecia possível uma vez que a liberdade acompanhava os bem aventurados.
Em Lisboa, cerca de 1 milhão de pessoas desfilaram da Alameda D. Afonso Henriques até à Av. Rio de Janeiro e encheram o estádio da FNAT, rebaptizado de Primeiro de Maio. A convocatória dos 23 sindicatos tinha surtido efeito e ninguém faltou à chamada. O V de vitória era feito com os dedos e os mais criativos usavam os triângulos dos carros.
Não houve divisões politicas e a unidade foi a palavra de ordem. A manifestação foi encabeçada por Mário Soares e Álvaro Cunhal, políticos que tinham chegado, uns dias antes, do exílio forçado. O estádio foi pequeno para albergar todos os que queriam ouvir os discursos e gritar as palavras de ordem. Uma delas foi rapidamente conseguida: voto aos 18 anos. A esperança era de tal forma grande que se pensou conseguir tudo o que havia sido proibido.
Passados 43 anos sobre essa data, verificamos que muita coisa mudou. Não que o trabalho não seja importante e que deixe de ser um direito, mas muitos valores sofrerem inversões que os levaram a caminhos mais tortuosos. As cisões políticas e as guerras partidárias retiraram a essência da luta e transformaram o colectivo em particular e cada um quer provar que é melhor do que o outro.
Não se trata de apelar à esquerda ou à direita, mas sim de bom senso e de satisfação de condições para melhorias comuns. De nada serve este ou aquele partido se só tiverem em mente a contagem dos votos, os proventos que possam conseguir e não aquilo a que inicialmente se propuseram: a justiça e a equidade.