Todos merecem uma segunda oportunidade

Será que somos todos merecedores de segundas oportunidades ou devemos ser sempre fiéis ao que achamos que somos e, ao falhar uma vez, ficamos  automaticamente condenados a castigos cruéis para todo o sempre?Eu sou apologista do benefício da dúvida e de dar a cara a mais uma chapada, sem prejuízo de me poder rebeldar a esta maneira de estar se o outro não o merecer.

Mas, afinal de contas, quem me diz quem merece ou não o “meu” benefício da dúvida ou uma segunda ou terceira oportunidade?

O que me serve de medida padrão para esse julgamento são os meus valores e a minha percepção do que é, ou não, desculpável. Depois também é importante conhecer os meus limites.

Por muito compreensiva que eu seja, porque sou uma pessoa bastante empática, existem determinadas coisas com as quais não estou disposta a compactuar e/ou mesmo aturar.

Desculpo muita coisa, tento sempre perceber as motivações dos outros e pensar que não sou dona da razão, nem sei o que é estar “nos sapatos” dos outros. A verdade é que, por muito que eu me esforce, também eu sou falível e também posso, em determinadas alturas, não agir bem com determinada pessoa ou situação. Eu sei que não sou perfeita e que as minhas imperfeições são o que me tornam humana, mas também são o que me permite aceitar as imperfeições alheias.

Às vezes, até sou impelida a não reagir muito bem às acções dos outros para comigo. Posso, eventualmente, reagir de cabeça quente e dizer o que não diria numa situação calma. No entanto, a idade tem-me ensinado que a melhor de todas reacções ao mal que nos fazem é mesmo a indiferença.

Claro que a indiferença não é algo que seja  fácil controlar, por ser um enorme exercício de muita sensatez, mas com algum foco até que se torna numa grande aliada e oferece-me um maior nível de tolerância ao que me desagrada e ao que ultrapassa os meus limites.

Dizem que a indiferença e o desprezo são piores que o ódio, o que considero uma grande verdade!

Também eu não gosto de ser ignorada ou desprezada. Faz-me sentir que estou a lutar com moínhos, pois deixo de ter argumentos e acabo frustrada.

E quando somos nós os nossos juízes?

Quando sou eu que me desiludo?

Quando sou eu que falho comigo própria ou com alguém que amo?

Será que mereço uma segunda oportunidade?  Será que posso usar a indiferença e seguir em frente?

Será que é tão fácil me desculpar como aos outros?

Não é. A menos que estejamos a falar de pessoas narcisistas e egoístas, não é nada fácil perdoarmo-nos a nós mesmos. Porquê? Porque nos é difícil aceitar que somos falíveis e que erramos. Muito difícil.

Claro que existem muitos por aí que conseguem imputar os seus crimes aos outros e viver tranquilamente com isso. Nunca têm culpa de coisa nenhuma e os outros são sempre cheios de defeitos… Essas pessoas têm os valores todos errados. Talvez até consigam ser felizes assim, ao contrário dos outros, mas não deixam de pertencer a uma espécie com a qual tenho muito pouco a ver.

A mente humana é um mistério e um labirinto por onde vagueamos, que nos ilude e desilude, que nos prende e nos dá liberdade para ser o que quisermos.

Gostaria de saber dar-me as segundas oportunidades e o mesmo tipo de “benefício da dúvida” que dou aos outros, mas não sei. Sou muito mais exigente e punitiva comigo, acabando por me castigar de forma dura e perdendo, aos poucos, a fé nas minhas capacidades ou no meu real valor.

Quando analiso os meus erros verifico que afinal não são assim tão graves e que devia ser mais permissiva comigo. E saber perdoar-me da mesma maneira que perdoo os outros.

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