Billy Crystal e Meg Ryan são soberbos nesta comédia. Dois estudantes partem de Chicago para Nova Iorque e a viagem é um horror pois detestam-se. Ele, o namorado da colega de quarto dela e ela, a irritante e picuinhas com tudo. No entanto a vida vai fazer com que se cruzem, durante uns longos doze anos, de maneiras curiosas e muito inusitadas.
Durante a viagem, para quebrar o gelo e tornar tudo mais aprazível, é colocada a questão: “Os homens e as mulheres podem apenas ser amigos?” e Sally , a revolucionária e destemida mulher tem o seu ponto de vista, que é o oposto de Harry, o homem clássico que só pensa em sexo quando vê uma mulher. Um sinal de educação, clássica e avançada, que não mostra tendência a mudar. Para os dois.
Na verdade, este filme é uma tese sobre relacionamentos, onde o casamento e o divórcio estão na linha da frente. A visão dos dois lados é feita de maneira suave, mas bem elaborada. Elas, as eternas românticas, mesmo que sejam emancipadas, ainda sonham com o homem que seja uma espécie de príncipe, que não é encantado, mas tenha um final feliz.
Já eles, eles agem como uns cães vadios à porta de um supermercado, na ânsia de ver quem lhes atira com o pedaço de carne que os irá satisfazer. Os vários homens inquiridos admitem ser muito difícil separar a amizade da tal atracção sexual.
As cenas que mostram os vários casais contando como se conheceram são verídicas e foram gravadas pelo realizador, Rob Reiner, para serem inseridas no filme e lhe dar maior veracidade e suporte. Este realizador já tinha dado cartas como actor numa série que marcou gerações, ” Uma família às direitas “.
Ao longo dos anos os protagonistas vão-se cruzando até que se tornam amigos e partilham as suas tragédias pessoais e os desamores das suas vidas. Ele, depois de um divórcio bastante suis generis, não se consegue recompor e fica um caco de desânimo e tristeza. Ela tenta encontrar-lhe uma parceira para o acalmar.
Num desses encontros de amigos dos amigos, em que Harry e Sally querem compor o ramalhete e dar rumo aos seus amigos, os pares que queriam juntar e fazê-los parecer como destinados, não se concretizaram, havendo um volte face na situação, de forma caricata, fazendo com que os ditos se envolvessem e ficassem juntos.
Um dia tudo muda, quando os dois amigos percebem que afinal há mais do que amizade entre eles: estão apaixonados e, nesse mesmo momento, percebem que não podem viver um sem o outro. Todas estas reviravoltas são hilariantes, entrosando-se com uns cenários lindíssimos, em que as várias estações do ano simbolizam a maturidade destes dois seres perdidos à procura de si.
Há uma cena particularmente interessante que se passa num restaurante com lotação quase esgotada. Sally e Harry, logo no início da viagem para Nova Iorque, discutem a capacidade do homem reconhecer quando uma mulher finge um orgasmo. Sally afirma que os homens não percebem a diferença entre real e fictício e, para ilustrar o seu ponto de vista, prova o que afirma, fingindo um orgasmo ruidoso enquanto os outros clientes assistem.
Tudo para e olham para aquela mesa. Sally tem um brilhante desempenho e a cena termina, tranquila, quando ela começa a comer. Não se passou nada. Claro que tinha feito um pedido, com tudo a parte. Após o choque inicial, uma mulher, numa das mesas, pede ao empregado: “Quero o mesmo que ela comeu”
Nada de mais, como é óbvio. Acontece em qualquer restaurante. A actriz que pede o mesmo era apenas a mãe do realizador e, para que a cena ficasse no ponto certo, em termos irónicos, no ponto G, demorou horas até que o clímax desejado fosse atingido. Todas as mulheres presentes se riram do que viam e os homens estavam em silêncio.
O amor e as suas voltas douradas e estranhas. Um sentimento tão arrebatador, mas igualmente castrador e cheio de manias de prima dona com um estilo de plumas e lantejoulas estonteantes. Como viver com ele? Pior, como viver sem ele? Ai, o amor que é inevitável.
A banda sonora inclui nomes como Harry Connick Jr e Bobby Colomby, com arranjos próprios para o filme. No entanto, outros nomes se juntaram como Frank Sinatra, Ray Charles, Louis Armstrong, Bing Crosby e Ella Fitzgerald. Um festim para os sentidos.