Sinopse:
“Eu sou um contador de histórias. Pagam-me para isso, pagam-me para percorrer o mundo e contar o que vi (…) Fiz o que pude para justificar o privilégio que tive. Trouxe comigo o que podia para partilhar com os outros: filmes, fotografias, relatos, mapas, instruções de viagem. (…)”
Nem sempre viajei para sul, mas nada vi de tão extraordinário como o sul. O Sul é uma porta de avião que se abre e um cheiro inebriante a verde que nos suga, o calor, a humidade colada à pele, os risos das pessoas, o ruído, a confusão de um terminal de bagagens, um excesso de tudo que nos engole e arrasta como uma vaga gigantesca. Apetece fechar os olhos, quebrar os gestos e deixar-se ir. Mas é justamente neste caos que eu procuro a lucidez do contador de histórias.”
Li este livro há muitos anos e adorei. É basicamente um diário de viagens onde o autor relata as maravilhas que viu, pelos lugares que passou (Amazônia, Goa, S. Tomé e Príncipe, Alentejo, Egipto, etc.), as pessoas que conheceu e as dificuldades que enfrentou.
A escrita vem acompanhada por fotografias, mas são as palavras que nos transportam para os lugares, poucos são aqueles que têm esse dom. O mais interessante é que também recebemos uma boa lição de história nas páginas deste livro. O mesmo não tem uma sequência cronológica, vai saltando de sítio em sítio mediante a vontade do autor e os relatos são longos q.b.
Miguel Sousa Tavares já foi um dos meus escritores preferidos, até ler um dos seus mais aclamados romances Equador e quase morrer (de tédio) no processo, não que a história fosse desinteressante (não era mesmo), apenas não me conquistou. Já este, prendeu-me do início ao fim, talvez por não ser ficção, talvez por eu não ser aventureira.
Outros livros sobre viagens do autor:
- Ukuhamba – Manhã de África;
- No teu Deserto;
- Não se encontra o que se procura.
«O verde afasta o azul que ainda há pouco reinava sobre este cenário. Um pássaro oculto entre as palmeiras grita cadenciado, ao ritmo da chuva. (…) Por longos instantes nada vem perturbar a harmonia desta hora única. Para lá desta varanda, depois da praia e do oceano em frente, existe o mundo e todas as suas metrópoles. Mas há momentos mágicos que suspendem o tempo e o mundo, como o deste crepúsculo.
Como no Out of Africa, quando Meryl Streep diz para Robert Redford: “Tudo o que disseres agora, eu acredito.”»
(excerto do capítulo sobre Guadalupe)