Esta semana, puxou-me a atenção a notícia sobre a primeira-ministra finlandesa, por dois aspectos que merecem a minha admiração: o conteúdo da notícia assim como a própria primeira-ministra em si. Sanna Marin é, com 34 anos, a chefe de governo mais jovem do mundo e é uma mulher! Admito que me agrada ver chegar a cargos desta importância uma mulher pois continuamos, no geral, sem paridade na ocupação de cargos nos diferentes governos. Se temos uma população em que cerca de 50% são homens e 50% mulheres, não fará sentido as mulheres terem representação equivalente no governo? Sabemos que há nuances diferentes nas perspectivas que um e outro sexo têm sobre os mais variados assuntos, e isso pesa na hora de tomar decisões que terão impacto nas nossas vidas.
Também sei que Sanna Marin não é a primeira a sugerir uma jornada laboral mais curta, aliás, vários estudos sustentam um aumento da produtividade com menos horas de trabalho diário. Defendeu uma semana de trabalho de 4 dias de apenas 6 horas, defendeu, no fundo, a família, o direito a tempo para ela e a tempo livre para aquilo que nos apraz. Embora não haja planos concretos para uma reformulação laboral, a verdade é que, para se lá chegar, é necessário iniciar o diálogo. Esta já é uma realidade em algumas regiões da Suécia, onde se passou ao aumento da produtividade com uma carga semanal de 30 horas apenas.
Estamos tão habituados à semana de 40 horas, em que muito fica por fazer ainda depois de terminar, que quase ficamos chocados com essa sugestão. Nas redes sociais, viram-se reações de indignação classificando essa ideia de grande disparate. Porém, há tanta coisa que mudou nos últimos 10 anos e o ritmo parece não abrandar. Vejamos só todos os avanços da tecnologia: nos supermercados cada vez mais somos nós próprios a passar os nossos artigos nas caixas, na autoestrada temos a via verde e o online banking oferece hoje um grande número de serviços para os quais, há pouco tempo, teria sido necessário deslocarmo-nos a um balcão. Estes para nomear apenas alguns. Por trás de todos estes serviços está a robotização de tarefas repetitivas que roubam tempo e que são aborrecidas pois não estimulam quem as executa.
Só posso acolher com entusiasmo a possibilidade de podermos ter um futuro em que grande parte das tarefas serão executadas por máquinas, libertando-nos a nós, humanos, para as tarefas mais analíticas, criativas e humanas. Mais ainda, se grande parte do trabalho pode ser executado automaticamente, então, nós poderemos efectivamente trabalhar menos se assim desejarmos. Longe vai o tempo em que se aprendia uma profissão vitalícia. Hoje queremos evolução profissional e isso facilmente se conjuga com evolução pessoal. Pensemos na gestão de conflitos, na inteligência emocional, nas soft-skills e a criatividade – tudo competências que ainda todos nós precisamos tanto de desenvolver e que são transversais a todas as áreas das nossas vidas.
Sonho com uma realidade em que cada um de nós possa ser quem verdadeiramente é o tempo todo, sonho com um tempo em que tenhamos todos evoluído ao ponto de o conceito de trabalho já não existir e cada um fazer o que é necessário ser feito para contribuir para o bem de todos. Nesse sentido, a família é o modelo: cuidamos uns dos outros sem cobrar. Sonho porque sou idealista e isso dá-me esperança. Se é possível, não sei. Mas era bonito, não era?