Trabalhar depois de parir.

Acho que me posso referir à generalidade das mulheres quando digo que existem vidas distintas antes e depois da maternidade. Existe uma mulher antes de ser mãe e nasce uma mulher completamente distinta ao mesmo tempo que nasce um filho. Sempre foi assim ao longo da história e sempre assim o será. A natureza deu-nos este dom de perpetuar a espécie com um conjunto de detalhes que por muito que a sociedade tente minimizar, vão ter sempre a maior importância. São raras as mulheres que não ganham instintos animais após serem mães e são raras as mulheres que não colocam em perspectiva toda a sua ordem de prioridades.

A sociedade actual, com todas as suas características orientadas para o consumo e para o lucro, é uma engrenagem tão forte e pesada que afoga a vida pessoal e familiar da maioria dos seus alicerces, as mulheres.

Uma mulher ao ser mãe, nos primeiros meses de vida do bebé, tem um papel fundamental e praticamente insubstituível. Uma mulher acabada de ser mãe tem de “sair de cena”. O seu corpo precisa de se curar e recuperar, o recém-nascido depende totalmente da mãe e a nova dinâmica que surge após o nascimento de uma criança tem de ser trabalhada e ajustada à família. É um caminho bonito, mas nada tem de simples ou linear e cada mulher faz o percurso no seu próprio tempo.

O regresso ao mercado de trabalho depois do nascimento de um filho também não é fácil. Uma mulher com uma carreira promissora vai ver a sua progressão travada porque pura e simplesmente a sua disponibilidade não é a mesma. Uma mulher que deixa um filho pequeno na creche de manhã para ir trabalhar, sabendo que ele não passou bem a noite, pura e simplesmente não vai ter a mesma capacidade de concentração e aproveitamento. Uma mulher que não descansa porque o filho tossiu a noite toda, não vai ter um dia de trabalho de alto rendimento. Uma mulher que emocional e psicologicamente não se sente preparada para passar um dia longe do seu bebé, nunca vai ter um dia de trabalho exemplar. É assim que a natureza funciona e por muito que se insista no movimento inverso, a ligação mãe/bebé sobrepõe-se a todas as justificações.

As empresas têm de ter meios, capacidade e vontade de se adaptar à maternidade e às famílias. Uma mulher não pode ser prejudicada profissionalmente após ter sido mãe, mesmo que a sua disponibilidade não seja a mesma, nem que seja pelo facto de um país apenas ser sustentável do ponto de vista social se a taxa de natalidade for considerável. Uma mulher não se pode sentir julgada nem diminuída no seu trabalho por ter horário de amamentação prolongado, por exemplo. Existe uma série de factores que teriam de ser trabalhados em conjunto com famílias e entidades empregadoras para que existisse um apoio efectivo à natalidade sem procedimentos negativos escondidos nas dinâmicas próprias das empresas. Tem de existir vontade e acima de tudo, mudança de mentalidade relativamente à importância da constituição de família no desenvolvimento de um país. Ter um filho, ou mais que um, tem de ser encorajado, apoiado e salvaguardado por todos. Não pode, de maneira nenhuma, ser um factor discriminatório em termos laborais. As entidades responsáveis devem prolongar as licenças para mães e pais, devem limitar horários, devem incentivar a progressão na carreira e devem garantir condições dignas para a vida familiar. Só assim poderemos construir uma sociedade que acarinhe as famílias.

Este texto foi escrito ao abrigo do antigo Acordo Ortográfico

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