Tony Ann ao vivo em Lisboa – um piano que respira magia

Num mundo agitado onde o ruído parece sobrepor-se ao silêncio que precisamos em alguns momentos na vida, encontrar instantes de verdadeira quietude torna-se quase um luxo raro.
Foi precisamente esse o presente que Tony Ann, reputado jovem pianista canadiano, ofereceu ao público lisboeta, em dois concertos esgotados no Teatro Tivoli BBVA, em junho deste ano.

Este Jovem carismático pianista, não é apenas mais um nome em ascensão no panorama da música neoclássica. É, antes de tudo, uma presença cativante e uma alma inquieta que se comunica por notas, não por palavras, transmitindo sensações de grande tranquilidade.
A sua ainda recente obra, profundamente sensível, é construída com uma honestidade desarmante. Desde os primeiros acordes até à última nota, a sua actuação transforma o palco num quase confessionário, onde o público não apenas escuta, mas sente, respira e se revê nas notas melodiosas que emanam do seu piano.

A sua música não procura deslumbrar pela complexidade técnica (que já é visível para os especialistas), mas pela profundidade emocional. Em cada peça, há um convite à introspecção, uma janela para dentro de nós próprios.

Este concerto ao vivo em Lisboa que tive o privilégio de assistir foi uma viagem sem mapas que se traduziu numa experiência muito gratificante. Entre temas originais e improvisações subtis, Tony Ann leva-nos pela mão por via de “paisagens” sonoras onde o tempo recua.

O ponto alto da noite foi, sem dúvida, a interpretação de “Icarus”, do seu mais recente álbum de originais “Emotions (Deluxe)” de 2024. Nesta composição, o pianista mistura a leveza das notas com a melancolia, num voo que nunca chega a cair, mas que paira, como um suspiro suspenso entre céu e terra. A peça sintetiza o que de mais belo há na sua linguagem: uma estética que diria minimalista ao serviço de uma carga emocional muito intensa.

O que distingue Tony Ann de muitos dos seus contemporâneos é a ligação que estabelece com quem o ouve, neste caso o público. A sua empatia é fantástica, quase física.

Entre temas, dirige-se ao público com humildade e humor contido, conseguiu proferir algumas palavras em português de agradecimento, tornando cada pausa um momento de aproximação, entre o compositor e o público. Esta conexão é, hoje, mais rara do que se possa pensar.

Se há algo que os concertos no Teatro Tivoli BBVA deixaram claro, é que Tony Ann não está apenas a construir uma carreira; está a desenhar um percurso artístico autêntico. A sua abordagem delicada, mas firme, ao piano revela uma maturidade rara na sua geração.

Consegue ser simultaneamente íntimo e universal, tocando em pontos de vulnerabilidade humana que não sabíamos ter e consegue curar com acordes que desconhecíamos precisar.

Para quem ainda não descobriu este pianista e a sua música, a recomendação que deixo é simples: escutem – é mais do que belo, é sublime. Não de forma forçada, mas com tempo, atenção e entrega. Ouvir Tony Ann é permitir-se parar para ouvir.

Eu já acompanhava o seu trabalho sem saber de quem se tratava, mas por uma sugestão de playlist no Spotify, comecei a apreciar a sua música e posso dizer-vos que ver Tony Ann ao vivo é uma experiência inquietante e transformadora. Há artistas que sabem traduzir beleza na arte que executam e este jovem pianista é um exemplo disso.

Para mim, a música foi sempre sobre expressar aquilo que não consigo colocar em palavras.

Tony Ann

Nota: Este artigo foi escrito seguindo as regras do Antigo Acordo Ortográfico.



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