Shakespeare dizia que todo o mundo é um palco (“All the world is a stage”). Através desta afirmação é possível perceber o motivo pela qual mesmo depois de todos estes séculos este autor continua tão atual. Shakespeare é um autor incontornável que influenciou o cinema, para além da literatura e do teatro.
No que toca ao Cinema, as adaptações mais conhecidas são o filme Hamlet (1948), que foi muito bem recebido pela crítica. Outro exemplo, é a película o Rei Leão, também ela baseada na peça teatral inglesa “Hamlet”. O filme Macbeth produzido em 2015, com estreia indefinida em Portugal, é também uma adaptação da peça homónima de Shakespeare.
No que toca à Tradução deste autor para português, Sofia de Mello Breyner é um nome que se evidencia, pela transparência e proximidade que conseguiu dar ao texto de Shakespeare.
O autor de Hamlet conhecia bem a condição humana, já no seu tempo. Esta peça de teatro, escrita entre 1599 e 1601, explora vários temas na generalidade, mas um em particular: a representação. Shakespeare analisa a complexidade do “eu real” e do “eu projetado”, ou seja, entre o “eu” genuíno e o “eu” que encarna uma personagem de modo a poder ser e a poder estar no mundo.
O pensamento implícito que Shakespeare quer transmitir através da frase do início é precisamente o facto de haver uma dimensão humana que não é representada, nem representável, e talvez ela assuma grande importância nas nossas vidas, embora não pensemos muito nisso.
Em boa verdade, este autor indireta ou diretamente explica que a comunicação é feita através de símbolos, sendo que, muitas vezes não queremos explorar para não chegar à nudez do outro, ou até mesmo, até à nossa própria nudez. A comunicação é feita, deste modo, através de véus.
Shakespeare explora, no fundo, o lado cerimonial, encenado e ritualizado da vida social.
Agamben é um autor que corrobora esta tese justificando que, a pessoa moral como que “aceita” sem reservas a “máscara social”, ao mesmo tempo que se distancia dela, (quase) impercetivelmente.
Richard Sennet estudou a maneira como os indivíduos se consideram “prisioneiros” nos lugares onde têm de desempenhar papéis sociais, a começar pela família e pelo trabalho. Qualquer atividade feita em grupo dramatiza-se, representa-se, porque a simples consciência do ato e o facto de o mostrar aos outros já produz, inevitavelmente, a atuação.
A falsidade da representação é intrínseca aos sujeitos, uma vez que, o simples facto de mostrar algo a alguém implica dar a impressão de que seja socialmente aceite e percetível.
Paradoxalmente, a própria sinceridade ao expressar-se, torna-se, deste modo, insincera, e Shakespeare tratou este tema como ninguém.